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A busca de si mesma: a jornada da Heroína

Estou lendo um livro novo – “O herói com rosto africano” de Clyde W. Ford e estou amando. Lembrei então de um post que escrevi em 2012 sobre a jornada, que foi publicado primeiro no site Vya Estelar da Uol, onde escrevia então e depois aqui. A partir dessa leitura, me deu vontade de republicá-lo: aqui está, 8 anos depois de tê-lo escrito.

Ela acorda um dia bem cedo como de costume, prepara o café, acorda as crianças e ajuda a se arrumarem, as alimenta, junto com o marido acomoda-os no carro para ele leva-las à escola, dá um beijo distraído nos três, toma banho pensando nas duas reuniões que vai ter que coordenar hoje no trabalho, lembra que tem que deixar dinheiro para a empregada comprar creme de leite para fazer a quiche para a noite, se culpa porque não tem ido à academia nem as sessões de drenagem linfática, se veste enquanto liga seu laptop, dá uma olhada rápida nos jornais pela web para se atualizar um pouco, lembra daquele livro que sua amiga lhe emprestou dizendo que era ótimo e que nem abriu, vai para o banheiro para se maquiar e se olha no espelho.

E, de repente, toma um susto – quem é aquela mulher que a olha de volta? Olha de novo e parece não se reconhecer mais. Quem é essa mulher de rosto tenso e estressado, de olhos sem brilho, expressão cansada e entediada que olha para ela de volta? É, não se reconhece! Onde foi aquela moça de olhar vivo, cheia de energia, que achava que viver era um desafio? Que desafiava todos que queriam lhe dizer como viver, achando que traçar seu próprio caminho era seu direito e dever. Que gostava de ser ela mesma e ao mesmo tempo se descobrir.
Aonde ela foi? O que aconteceu com ela? Quando ela se perdeu de si?

Se ao ler essas linhas você se identificar, cara leitora (ou leitor) em alguma medida, com o momento de perplexidade dessa mulher se olhando no espelho, preste muita atenção porque você pode estar CHAMADO para entrar em uma grande aventura. Isso mesmo, um chamado para uma jornada em busca de você mesma, como diz o nome do artigo.
Mas, afinal que jornada é essa?

Joseph Campbell, um grande estudioso de mitologia comparada, lançou em 1949, um pequeno livro chamado O HERÓI DE MIL FACES, onde estudando mitos de heróis de diferentes épocas, culturas, povos, descobriu que quase todos eles traziam uma seqüência de acontecimentos em comum e chamou essa seqüência de Jornada do Herói. A partir desse livro esse modelo mítico se tornou muito conhecido no mundo todo.
É dessa jornada que estou falando, porque ela serve com perfeição como modelo simbólico para a busca do mais profundo de nós mesmos, da nossa originalidade, da nossa alma!

Mas porque buscar nos mitos o remédio para o vazio e a alienação de si retratados nessa mulher se olhando no espelho? Porque nossa psique, nossa alma é simbólica: sua linguagem são as imagens, as metáforas, os mitos. Se nos desconectamos dessas formas de expressão por menosprezar sua existência como algo menor ou até por desacreditar em sua existência, ficamos áridos, secos, desvitalizados! Nossa parte mais profunda e essencial precisa beber nessa fonte para se sentir viva. Sem isso somos mulheres e homens coletivos, clichês ambulantes da cultura em que vivemos.

Mas, voltando a nossa historinha, você pode estar se perguntando: se a minha vida é tão cheia de tarefas e deveres, iguais ou piores que a mulher do espelho, falar em buscar ou recuperar a própria individualidade não é um luxo inatingível???

Bom, a meu ver é o único caminho possível! Quando nos esquecemos de nós, de quem verdadeiramente somos, do que nos traz alegria e vitalidade para o viver, não fazemos bem a ninguém: nem a quem amamos, nem a nós mesmos. É quando nos sentimos inteiros na vida é que temos a oferecer aos outros.
Buscar aquilo que nos faz sentir de fato vivos não pode ser nossa última prioridade, aquilo que fazemos quando não temos mais para fazer. Não, tem que ser uma das nossas prioridades vitais.

Ok, dirá você, mas pode me dizer COMO???
Em primeiríssimo lugar temos que achar que isso é nosso direito inalienável! E dever também!
Em segundo lugar e como requisito fundamental temos que nos livrar de dois “pequenos probleminhas” a quem somos, em geral apegadíssimos: o sentimento de culpa e a necessidade de ser perfeito!
Em terceiro lugar ajuda muito conhecer o modelo da jornada do herói, porque pode servir de guia em nosso caminho.
Que tal refletir sobre isso?

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