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A herança hippie de Janis Joplin

Amo Janis Joplin!
Em São Francisco, vou direto para a rua Haight-Ashbury, o centro da região hippie onde ela morou, assim como Jimmy Hendrix, Bob Marley,Grateful Dead. Reza a lenda que George Harrison foi morar por lá também, mas logo voltou para Londres dizendo que aquilo era louco demais para ele.

A rua ainda é meio bizarra. Justamente naquele dia fazem uma espécie de passeata para a liberação irrestrita da maconha, que já é bem liberada por lá.
Nas calçadas envoltas em nuvens de fumaça, basta respirar que você já entra no clima dos anos 60.
Penso: mesmo? Será que ficou alguma coisa do ideal hippie?

Há um hexagrama do I Ching que diz: “As melhores roupas viram farrapos”.
Assim o tempo parece ter feito em farrapos as melhores intenções que minha geração teve: o amor (não só sexo) livre, a negação da sociedade de consumo, a vida alternativa, a exploração interior inclusive via drogas…  
Mas, nesse lugar onde Janis cantou, na frente do muro com a inscrição: LISTEN TO THIS WALL, de repente uma conhecida voz rouca me sussurra:
Mas a legitimação e valorização das viagens internas que você mesma faz é uma herança hippie!
Ok, tá certo, reconheço.
Se a imersão na via interior incentivou o aumento de drogaditos, traficantes e violência, por outro lado libertou-se dos mandamentos e regras das instituições religiosas e não é mais vista como coisa apenas de iniciados, místicos, excêntricos, malucos.
Que seja percorrido através das drogas, da meditação, de diversas terapias, do esoterismo barato ou caro, para o bem ou para o mal, o fato é que esse canal foi aberto.

Canal pelo qual os mitos fizeram uma reentrada no mundo em obras populares e em estudos acadêmicos, e pelo qual, por exemplo, a própria Jornada do herói pode alcançar e fazer sentido para mais gente.
Canal que passou primeiro pela rua Haight-Ashbury, onde Janis deu seu recado.
   

Texto e foto de Beatriz Del Picchia, foto Janis Joplin internet

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