O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A verdadeira Cinderela

Essa dama de ar determinado da foto que bati no Jardim do Luxemburgo, em Paris, é a Rainha Bathide da França.
Sua história foi contada durante mais de mil anos, por toda Europa medieval.
É quase consenso entre os historiadores que Charles Perrault escreveu o conto de fadas da Cinderela, em 1697, inspirado em sua vida.

Mas o conto é muito menor do que a pessoa que o inspirou. Também, ele foi escrito por um homem, numa época em que o modelo feminino tinha que ser passivo.
Vamos combinar que sua Cinderela não tinha muita iniciativa, fazendo apenas o que a Fada Madrinha mandava que fizesse. Já a Bathilde, o que não faltava era iniciativa.
Além disso, a história de Cinderela acaba com “casou-se e foi feliz para sempre”, e a história de Bathilde segue muito além do casamento.

Ela teve uma vida extraordinária: de escrava virou rainha, foi mãe de três reis, regente do reino, batalhou por causas justas, e por fim se tornou uma santa católica.
Olhe só:

Nascida no sec VII, numa família da aristocracia inglesa, ainda criança Bathilde foi raptada por piratas e vendida no mercado de escravos. Foi levada para trabalhar para a mulher de Erchinoald, um nobre francês.
Começou como uma humilde serva, mas era tão inteligente que muito jovem já se destacou, sendo escolhida para a função de governanta.
Quando sua esposa faleceu, Erchinoald quis ficar com ela, mas Bathilde fugiu e só voltou ao palácio depois que ele se casou com outra mulher.
Foi nesse palácio que o Rei da França, Clovis II, também ficou tão impressionado com sua beleza e personalidade que acabou se casando com ela.
Assim, no ano de 649 a antiga escrava se tornou Rainha da França.
Ela teve três filhos: Clothaire, Childeric e Thierry. Quando o mais velho tinha cinco anos, o Rei Clovis morreu e ela foi proclamada Regente.
Logo começou a fazer reformas, a começar pela abolição da escravidão. Combateu a corrupção do clero e o mercantilismo que faziam de coisas sagradas; fez caridade usando sua herança pessoal e fundou abrigos, hospitais e monastérios.
Muito espiritualizada, foi um suporte para a Igreja Católica, que na época ainda estava se firmando, e pensou em abdicar para tornar-se monja. Mas os duques insistiram para que ficasse no poder até que seus filhos adquirissem a maioridade, porque ela era tão competente e respeitada que conseguia conter as lutas entre os ambiciosos nobres.
Quando os três príncipes se tornaram reis, ela entrou para o monastério na Abadia de Chelles, perto de Paris. Lá, fez questão de que todos se esquecessem de seus títulos e encarregou-se das funções mais baixas.
Viveu assim por quinze anos, até falecer no ano de 680.
Como teve o pressentimento da própria morte, fez preparativos espirituais e morreu em paz.

Foi canonizada como Santa Bathilde. 
 

Texto e fotos de Beatriz Del Picchia

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