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Airmid, a Senhora das Ervas Curativas


Airmid é uma deusa celta irlandesa muito antiga. Esse é seu relato mítico recontado por mim.

Airmid fazia parte de uma poderosa família de curandeiros/médicos. Seu pai era Dian Cecht, deus da cura e da magia, seu irmão Miach era o deus da cirurgia e a especialidade de Airmid eram as ervas.
Apesar da família toda ter grande poder curativo, com o tempo, o poder de cura dos irmãos se tornou maior que o do pai.
Um dia, numa batalha o rei dos Tuatha, Nuadha teve o braço decepado. O rei então recorreu ao poder de cura de Dian Cecht e este lhe reconstituiu um braço de prata plenamente funcional. Miach e Airmid, no entanto, foram muito além! Com sua medicina e encantamentos conseguiram regenerar o braço do rei em carne e osso. Maravilhado com o feito, ele ficou imensamente grato e enalteceu com muita pompa o poder dos dois jovens.
Dian Cecht ficou cheio de inveja e ressentimento: ele não conseguia competir com as habilidades cirúrgicas de Miach nem com os poderes de regeneração de Airmid. Foi então que num ataque de fúria e depois de três tentativas mal sucedidas matou o filho com sua espada.
Airmid ficou devastada: lamentou imensamente a morte do irmão e chorou desconsolada sobre sua sepultura. Regado por suas copiosas lágrimas, do solo brotaram ao mesmo tempo 365 tipos de ervas diferentes. Olhando para aquelas plantas que nasciam da terra Airmid começou ouvir abismada suas vozes: as ervas falavam com ela! E cada uma das 365 ervas começou a contar para Airmid quais eram seus poderes curativos específicos. A deusa viu então que cada uma curava uma doença diferente. Como eram 365 ervas, elas tinham poder de curar durante todo o ano solar, seja em forma de sementes ou raízes, broto ou haste, flores ou folhas. Fossem frescas na primavera ou secas no auge do inverno, as ervas sempre tinham efeito, pois funcionavam de acordo com os ciclos da natureza.
Com muito cuidado e delicadeza, Airmid colocou-as sobre seu manto, separadas e catalogadas de acordo com suas propriedades mágicas e medicinais. Muito feliz pensou que com elas ia curar todas as pessoas doentes do mundo e, mais que isso, ia ensinar as pessoas a se curarem, além de formar um grande grupo de mulheres curandeiras, suas “filhas”.
Quando o pai viu a conquista da filha e a beleza do trabalho que ela havia feito, ficou ainda com mais inveja e cheio de rancor. Arrancou com violência das mãos de Airmid o manto e o jogou para o alto, misturando e espalhando todas as ervas.
Com esse gesto garantiu que o conhecimento sobre elas e sobre seus poderes de cura não estivesse disponível para nenhum ser humano. Somente Airmid teria acesso a ele, pois as ervas conversavam com ela. Além disso assegurou que nenhum humano conseguiria o segredo de como alcançar a imortalidade, que só era possível através do uso adequado de todas as 365 ervas.
Apesar das terríveis atitudes do pai e do tanto que lhes causaram sofrimento, para Airmid era mais importante curar seu povo. E para isso ajudou-o a criar a Fonte Sagrada da Cura, usando as ervas, desta vez colhidas por ela em todas as terras de Erin (Irlanda). E junto com Dian Cecht tornou-se a guardiã dessa fonte sagrada que curava os feridos nas batalhas e trazia os mortos de volta à vida. Se contava sobre essa fonte:
“O morto e o ferido de morte eram banhados nessa fonte de cura e Dian Cecht e sua filha Airmid cantavam encantamentos, e todos eram restaurados em pleno vigor”.
Depois de muitas batalhas com outros povos irlandeses antigos, os Tuatha Dé Danann ( o povo de Airmid) afinal se retiram para os subterrâneos das montanhas e se tornam o povo das fadas. E Airmid então se afastou definitivamente de seu violento, invejoso e irascível pai.
Acredita-se que hoje a Senhora das Ervas mora no alto das montanhas da Irlanda, passando grande parte do seu tempo curando, através de seu conhecimento prático e habilidades mágicas incríveis, criaturas que vivem no mundo sutil como as fadas e os elfos. E, às vezes, pode até fazer isso para alguns humanos…

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