As douradas sacerdotisas abelhas de Elêusis e o feminino de hoje
Na noite da chegada, a multidão de 2000 pessoas entra em Elêusis de tochas acesas.
Nesse momento as sacerdotisas responsáveis pelas ceras das tochas e pelo hidromel, as condutoras dos mistérios, que eram as sacerdotisas-abelhas chamadas Melissaes, surgem cobertas de mel e de pó de ouro para se destacarem na multidão e brilharem na luz das tochas. Elas dançam em frente das fontes sagradas de Elêusis.
Você pode imaginar cena mais linda?
O mito de Elêusis fala de Demeter, uma mãe cuja filha foi raptada pelo deus Hades e que ficou muito zangada. Como ela é a Grande Deusa da Terra Cultivada, sua zanga é catastrófica: ela faz com que nenhum grão nasça até a filha Perséfone ser devolvida.
E quando ela volta Demeter dá aos seres humanos o grão da vida, representado pelo grão de trigo. A Deusa os ensina a plantar, colher e fazer o pão com esse grão e ainda institui esse ritual, Os mistérios de Elêusis. Sua fundamentação era a morte simbólica, a semente que morre no seio da terra e se transmuta em novos rebentos.
Isso quer dizer que um ritual iniciático que trata da morte e renascimento não apenas do grão mas também dos homens. O que os Mistérios prometiam era a bem-aventurança após a morte. E o que ele promovia não era uma informação racional mas sim uma epifania, um evento fortemente transformador da personalidade e de ampliação de consciência.
Sua ligação com vida-morte e com a Deusa o torna um ritual de cunho profundamente feminino.Outro aspecto é que havia muitas sacerdotisas envolvidas nos rituais, como as Melissaes.
Podemos ver esse aspecto feminino também pela inclusividade do ritual, que era aberto a todos: mulheres, estrangeiros, escravos. As 2 únicas condições para participar eram que a pessoa precisava conhecer a língua grega e não podia ter cometido um crime de morte.
Na porta do templo de Elêusis estava escrito: Agora é hora de celebrar o encontro de Demeter com Perséfone.
Apesar de ainda ter muito a lutar, talvez já possamos agora comemorar os encontros de um antigo feminino, arcaico e forte, com nossas conquistas contemporâneas e quem sabe também com um futuro melhor para nossas filhas e netas. Para todas nós.
Informações recolhidas em Junito Brandão e no curso do Rodrigo Lopez