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Verdadeiras Belas: vidas reais das mulheres que escreveram a Bela e a Fera

A Bela e a Fera como conhecemos surgiu no sec XVIII na França e foi sendo reescrito sucessivamente por três mulheres, cada uma apoiando-se na antecessora e todas elas vivendo um pouco a história de Bela, como verão. Toda criação é, de alguma forma, pessoal.

Ao mesmo tempo, como a maioria deles, esse conto de fadas também tem raízes mitológicas muito antigas e foi reescrito e recontado inúmeras vezes. Adoro essa capacidade dos contos de reinventar-se, ajustar-se aos tempos e continuar passando seus recados! As três Belas re-escritoras dessa versão são:

Marie-Catherine d´Aulnoy´s

Aos 15 anos de idade, Marie casou-se com um homem famoso por sua reputação de jogador e notório colecionador de mulheres. Ela mesma teve alguns amantes, mas foi um casamento muito infeliz. Mais tarde Marie acusou seu marido de alta traição ao Rei, tentando leva-lo à forca. Mas a tentativa falhou e seu marido retaliou, acusando do mesmo a ela e a seu amante. Então Marie fugiu para Paris, onde se tornou uma escritora de sucesso escrevendo contos de fadas.

Sua versão da Bela e Fera, chamada “The Ram” e escrita entre 1696 e 1698, termina tragicamente com a figura da Besta morrendo de mágoa fora dos portões do castelo, onde sua esposa estava assistindo ao casamento da irmã. Ela escreveu outras histórias com finais mais felizes, mas é interessante ver que sua tentativa de matar seu marido real concretizou-se nesta história. Ela certamente não era ingênua sobre o que poderia acontecer no casamento quando escreveu sua versão desta linha romântica de contos de fadas…

Mme de Villeneuve

Dulac Villeneuve casou-se aos 21 anos, mas pediu uma separação depois de apenas 6 meses porque seu marido estava gastando desenfreadamente toda sua riqueza. Aos 26 anos de idade ficou viúva e, tendo perdido toda fortuna, teve que trabalhar para ganhar a vida. Ela viveu com um namorado pelo resto da vida e sustentou-se como escritora, coisas praticamente inéditas para a época.

Sua versão da história, escrita em 1740, estabeleceu os detalhes essenciais que associamos com a tradição Bela e Fera, como longas descrições do que aconteceu no castelo e histórias paralelas que amarravam todos os detalhes. Uma ênfase do conto foi a ideia de que casar-se por bondade e não por beleza, inteligência ou classe social. Tendo experimentado dois relacionamentos significativos, Villeneuve tinha mais perspectiva sobre o que ajudava os relacionamentos a darem certo a longo prazo: o caráter e a igualdade entre parceiros.

Mme de Beaumont

Como Bela em seu conto, ela era muito bem educada. Como as duas mulheres acima, ela teve um casamento arranjado com um homem muito mulherengo e o casamento foi anulado após 2 anos. Beaumont mudou-se para a Inglaterra e sustentou-se como governanta e escritora, sendo autora de mais de 70 livros. Aos 51 anos ela voltou para a França e se casou novamente, desta vez resultando em um casamento feliz.

Em 1756, Beaumont simplificou a história de Villeneuve para criar o clássico amado – sem dar qualquer crédito a Villeneuve, aliás. Por um lado, ela criou uma Bela com personalidade e que tem a escolha de casar-se ou não com a Fera. Ela aceita sacrificar-se para salvar o pai e o livro enfatiza que uma moça deve ver mais do que a aparência.

Isso seria ótimo se não viesse num contexto de ajudar famílias da nobreza (os tais pais empobrecidos) a convencer as mocinhas a aceitar casamentos de conveniência com homens velhos e feios, porém ricos. Mas essas dubiedades não são apenas dela…

As informações desse post foram colhidas no site Tales and Faerie e traduzidas,  editadas e comentadas por mim.

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