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Asase Yaa, uma Grande Mãe africana


Os Ashantis ou Axantes, de Gana, são um dos povos que compõem o importante grupo étnico e linguístico Akan, originários da África Ocidental. Os Ashantis desenvolveram um grande e influente império, que durou de cerca de 830 ac até 1235 dc e se estendia de Gana aos atuais Togo e Costa do Marfim. Hoje os Ashantis habitam a parte central do território de Gana, a cerca de trezentos quilômetros da costa.
Os Ashantis mantém sua cultura, mitos e tradições que são transmitidas oralmente de geração em geração.
Asase Yaa é a principal deusa dessa tradição. Ela representa o Ventre da Mãe Terra que nos dá à luz e a quem todos retornamos na morte. É Asase Yaa quem governa a fertilidade do solo de que todos os seres vivos dependem para nutrição e sustento.

Asase Yaa também é aquela que orienta e guia cada pessoa para que busque uma vida em harmonia com os outros, com a comunidade e com a natureza. E, após a morte, ela cuida, mas também julga os atos daqueles que morreram.
Sua importância para os Ashantis só é igualada a seu esposo sagrado, Nyame, o Criador do Mundo. Eles tiveram dois filhos: Tano, deus dos rios e Bia, deus dos animais selvagens. Os Ashantis acreditam que as plantas, animais e as árvores têm uma alma e creem também em espíritos da floresta e nos ancestrais, mas, acima de todos estão o casal Nyame e Asase Yaa.

Segundo uma antiga tradição desse povo, todos têm acrescido ao próprio nome, o nome do dia em que nasceram. Para eles Nyame criou a Terra numa quinta-feira, daí o nome da deusa: Asase (Terra) Yaa (mulher nascida quinta-feira). Para os Ashantis portanto, as quintas-feiras são dias sagrados onde não se lavra a terra nem há sepultamento dos mortos e todos os atos que possam profanar a terra devem ser evitados.

Na religião Ashanti tradicional, estados de transe dos sacerdotes são as formas mais utilizadas para entrar em contato com os deuses. Além do contato possível obtido através desses estados alterados dos religiosos, a reverência e o culto a Asase Yaa são exercidos em uma série de rituais. Como em todos os rituais Ashantis existe muita música, muita dança e libações. Dão também muito importância as vestimentas ritualísticas, feitas de tecidos confeccionados por eles, muito coloridos e com uma complexa padronagem.

Os tecidos ocupam um lugar muito especial em sua cultura, sendo utilizados não apenas como vestimenta, mas como forma de expressão. Esses tecidos, também usados na confecção de roupas não rituais, são chamados de kente, palavra que significa “cesta”, por terem suas tramas parecidas com os cestos entrelaçadas. Os Kent são verdadeiros “livros” para o povo Ashanti pois transmitem mensagens, provérbios e aforismos possíveis de serem reconhecidos por todos. Essa escrita pictográfica é conseguida através do uso simbólico tanto das cores como dos padrões geométricos utilizados em sua tecelagem.

Voltando aos rituais dedicados a Asase Yaa, durante a importante cerimônia de dar nome a uma criança recém nascida, realizada ao ar livre, o bebê é colocado numa espécie de tapete estendido sobre a terra. Aí se roga a deusa, com danças e músicas, que lhe conceda suas graças: que sustente a vida da criança e lhe dê proteção, orientação e a guie no bom caminho até o dia de sua morte.

Durante os ayies, os rituais funerários, as libações são derramadas para Asase Yaa, não apenas para pedir permissão para cavar a sepultura em seu ventre, mas também para pedir que ela aceite e proteja o corpo da pessoa a ser enterrada. Existe inclusive uma tradição bem antiga que recomenda que ao se enterrar um morto, antes de colocar seu caixão na cova, é importante balança-lo para cima e para baixo três vezes, a fim de avisar Asase Yaa e dar tempo para ela se preparar para recebê-lo dentro dela.

É também através de rituais dirigidos a Asase Yaa que os Ashantis têm acesso e mantêm conexões com os ancestrais.
Asase Yaa, é conhecida como a grande defensora da veracidade da fala e, em situações cotidianas, suspeitos de contarem mentiras são desafiados a tocar com a ponta da língua o solo, o corpo sagrado da Deusa, como prova de estarem dizendo a verdade.

Não há santuários nem templos em Gana dedicados a Asase Yaa, porque não é dessa forma que o povo Ashanti acha que ela deve ser cultuada. Acreditam que deva ser reverenciada em sua verdadeira morada, os campos ao ar livre e a todo o momento.
Para eles qualquer pessoa tem a capacidade de honrá-la especialmente se comprometendo a não profanar a terra/Terra de nenhuma forma. Agindo dessa maneira a pessoa assegura que a abundância, a generosidade e a proteção de Asase Yaa esteja sempre disponível para ela e para todos da comunidade.
Os Ashantis oram assim: “Mãe Terra, Asase Yaa, enquanto viver, dependo de ti. Quando morrer, irei para teu Ventre Sagrado. Por isso te amo e te reverencio”.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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