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Beguinários: revolucionarias comunidades femininas medievais autossustentáveis

Escondidinha no centro de Amsterdam fica essa linda pracinha que você pode ver nesse filme abaixo, que eu mesma fiz poucos anos atrás. Só que ela não é uma pracinha qualquer e sim um antigo beguinário. O que é um beguinário?

Desde o começo do século XIII, na Bélgica, Países Baixos, Flandres, Antuérpia, Alemanha e França, mulheres com vocação religiosa mas que não desejavam tornar-se freiras e nem esposas e mães, passaram a residir próximas umas das outras, formando os beguinários.

Elas se uniam assim porque queriam ter uma vida espiritual não hierárquica, que fosse ativa – no sentido de prestar auxílio aos necessitados, pobres, doentes, mulheres desprotegidas –  e também contemplativa, onde a prece, a meditação, a educação, a discussão das ideias e a experiência visionária fossem valorizadas e desenvolvidas. Muitas escreveram obras que só agora estão sendo apreciadas como explorações notáveis da psicologia e espiritualidade femininas. Olha que graça essa beguine da antiga imagem, cozinhando e lendo ao mesmo tempo. Muito beguine, muito feminina.

Nos beguinários havia casas comunitárias e chalés individuais. Enquanto noviças, as mulheres viviam com uma “grande senhora”, uma beguine mais velha (a Mestra ou avuela, né?), em seu claustro, e posteriormente tinham suas próprias habitações.  Mas passavam a maior parte do tempo juntas e faziam as refeições em comunidade. Mulheres viúvas ou separadas também podiam se tornar beguines, e elas podiam deixar suas comunidades e casar se quisessem. Frequentemente abrigavam mulheres que não pertenciam à ordem, mas que necessitavam de proteção.

Elas tinham um nível de liberdade muito raro entre as mulheres medievais, o que era perturbador para os homens e em especial para o clero católico e para os protestantes.  Algumas beguines foram queimadas como hereges, mas as coletividades persistiram por 800 anos, sendo que a última beguine faleceu em 2013.

Esse grupo ofereceu uma opção alternativa, feminina, coletiva e revolucionária para mulheres que viviam em épocas muito sombrias. Sabiam que unidas tinham mais força. É isso que boas amigas, grupos femininos e círculos de mulheres fazem: dão confiança, afeto, força, apoio de todo tipo, e estimulam o acesso à própria intuição, talentos e recursos antes desconhecidos.

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