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“Um dia quem sabe…”: Clarissa Pinkola fala sobre fantasias consoladoras

“Ele vai mudar…”  “Quando as crianças crescerem”… “Quando eu me sentir mais segura”… “Quando eu encontrar outra pessoa…” Em Mulheres que correm com os lobos Clarissa fala sobre fantasias que consolam mas amarram mulheres em situações ruins, da diferença entre cuidado e consolo e de como pensar nisso tudo de outra forma.

“O cuidado e o carinho levam a mulher de um lugar para outro. Eles são como cereais matinais psíquicos. A diferença entre o consolo e o cuidado e carinho é a seguinte: se você tem uma planta que está doente porque vocês a mantém num armário escuro e você lhe diz palavras tranquilizadoras, isso é consolo. Se você tira a planta do armário e a põe ao sol, lhe dá algo para beber e depois conversa comi ela, isso é cuidado e carinho.

Uma mulher enregelada sem cuidado e sem carinho tem a propensão a se voltar para incessantes fantasias hipotéticas. No entanto, mesmo que ela esteja nessa condição de enregelamento, especialmente se ela estiver numa situação dessas, ela deve recusar a fantasia consoladora. É que esse tipo de fantasia nos deixará mortas sem a menor dúvida.

Você sabe como essas fantasias letais se apresentam, “Um dia quem sabe…”’’Se ao menos eu tivesse…”, “Ele vai mudar…” e “Se eu só aprender a me controlar… quando eu realmente estiver pronta, quando eu tiver XYZ suficiente, quando as crianças crescerem, quando eu me sentir mais segura, quando eu encontrar outra pessoa e logo que eu…”, e assim por diante.

Ela não pode despertar para uma vida com um futuro porque sua desgraça é como um gancho no qual ela se pendura todos os dias. Nas iniciações, passar algum tempo sob condições difíceis faz parte de uma separação forçada da acomodação e do conforto. Como transição iniciática, esse período tem seu término, e a mulher “recém-preparada” começa uma vida criativa e espiritual revitalizada e esclarecida.(…)

Historicamente, e em especial na psicologia dos homens, a doença, o exílio e o sofrimento são muitas vezes compreendidos como uma separação iniciática, ocasionalmente com enorme significado. No entanto, para as mulheres, há outros arquétipos iniciáticos que têm origem na psicologia e no físico da mulher.

Dar à luz é um deles; o poder do sangue é outro, assim como estar apaixonada ou ser objeto de um amor benéfico. Receber a bênção de alguém que ela admira, receber ensinamentos profundos e positivos de alguém mais velho do que ela: todas essas são iniciações intensas e que possuem suas próprias tensões e ressurreições”.

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