O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

E quando você olha e vê que não tem turma?

                flickr – yushimoto christian

Não se encaixar foi uma questão para a Monika, até que descobriu algo muito importante e se resolveu plenamente. Ela é uma de nossas heroínas que estão no livro O feminino e o sagrado – mulheres na jornada do herói.  

A entrevista com ela foi realizada em sua casa e espaço de trabalho, situado numa pequena rua da Vila Madalena. Foi feita numa sala ampla, que é seu consultório. Tem dois divas/cama baixos, onde sentamos, uma grande estante de livros, com inúmeros títulos sobre a Deusa, em diferentes línguas, e algumas estatuetas. Essa sala se abre para um jardim gramado, uma fonte e flores, aonde pássaros vem com frequência. Monika von Koss é alta, magra, mas de ossatura grande. Cabelos grisalhos, compridos, sem nenhuma maquiagem, roupas simples, descalça. Objetiva, franca. A medida que se descontrai, sorri mais e seu semblante severo fica mais doce. Trechos do seu depoimento:

“- Minha vida foi muito difícil. Nada foi com muita leveza, foram processos muito profundos, muito difíceis, muito trabalhados. … As coisas estavam indo bem, de repente lá estava eu caindo em depressão. Volta e meia eu deprimia, volta e meia eu entrava num buraco. A minha vida inteira foi assim.

– Eu olhei para a morte muito cedo! Aos 3 anos eu tive que encarar a morte. Sair da Alemanha, outra morte. Perda das conexões, perda das tias, perda da avó, perda de qualquer vínculo que pudesse ter com mãe, com pessoas ligadas a ela. Foram quebras mesmo.

– – E, em algum momento, bem mais velha, eu reconheci o positivo de não ter espelho. Em todos os espelhos que eu olhava, eu não me reconhecia. Então eu tive que buscar dentro da minha profundeza, tive que me espelhar em mim mesma.

Tem uma solidão muito grande nisso, porque você olha e vê que não tem turma. Mas isso também me faz única, específica. Eu sempre me senti muito menos que qualquer outro. Mas isso não era verdade. Eu leio, eu tiro conclusões, eu penso, as coisas brotam. É uma sabedoria que eu já tenho. Eu passei por vários momentos da minha vida em que tive que reconhecer a minha competência. Eu tive que me reconhecer. Foi um processo de me reconhecer, e foi por etapas.

-Eu sempre fui sábia. A minha alma é anciã. Retroativamente, fui percebendo: sempre fui “uma velha sábia”, só que não tinha a menor consciência disso. Por isso, como sábia, como anciã, foi terrível ser jovem. Era terrível ser jovem, porque eu não sabia o que fazer com aquilo. Então, até a anciã emergir, foi muito difícil.

-Eu lembro com muita precisão do dia em que eu acordei e falei: “Hoje faço 50 anos de idade. A partir de agora, não devo nada a ninguém. Acabou a minha dívida com qualquer coisa; agora só vou fazer o que eu quiser”. Por isso que os 50 anos, para mim, foram tão bons!

-Eu pensei assim: “Agora acabou, não preciso mais corresponder a nada, não preciso mais justificar nada. Posso usar roxo com amarelo. Posso fazer o que eu bem entender. Porque, no fundo, a vida fica fácil quando você é o que você é!”

Trecho do livro O Feminino e o sagrado – mulheres na jornada do herói, Ed Ágora, grupo Summus

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