O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Filme: O Artista

Dá para pensar em fazer, hoje em dia, um filme branco e preto, e ainda por cima mudo?

Bom, é através dessa metalinguagem cinematográfica que O Artista conta a historia de George Valentin, um famoso ator que, nos últimos anos da década de 1920, se recusa a acreditar que filmes falados iriam fazer sucesso.
Além de fincar pé nisso, ele se apaixona por uma mocinha estreante no cinema que vai fazer uma carreira de sucesso justamente… nos filmes falados.

Joseph Campbell dizia que é o feminino – no jargão mitológico, a Deusa – que inspira os homens às aventuras. Aqui, ao mesmo tempo em que é uma fonte de sofrimento e humilhação para George Valentin, a mocinha também o guiará para novos horizontes.

Daquele jeitão melodramático old fashion, o enredo fala de resistência às mudanças: ontem, hoje, amanhã, a questão é que ou nos adaptamos, modificamo-nos, evoluímos – ou morremos. Ou então, como no caso, somos relegados ao esquecimento dos estúdios de Hollywood e da mídia.

A direção é cheia de referencias (O crepúsculo dos Deuses, por exemplo). Os cortes e sequencias seguem padrões consagrados nos filmes mudos. A expressividade dos atores tem de ser acentuada onde não há diálogos (e mostram o ótimo ator que é o francês Jean Dujardin), e algumas cenas feitas à La Chaplin continuam tocantes como há 90 anos atrás…

Amei o figurino, principalmente os vestidos de melindrosa, os chapeuzinhos, os cabelos chanel. E tem um cachorrinho nesse filme que é tudo de bom! Basta dizer que ele levou o primeiro “Golden Collar” (Coleira de Ouro), premiação criada para reconhecer a excelência canina nas telas.

Vencedor do premio de melhor ator no festival de Cannes e de três categorias do Globo de Ouro, indicado a 10 Oscars, incluindo melhor filme, diretor, ator, atriz coadjuvante e roteiro original, O Artista é um filme contemporâneo com um estilo antigo, que em alguns momentos não deixou de me passar uma sensação de dèjá-vu, apesar de sabê-lo metalinguagem, apesar dos lances criativos (como o do pesadelo, falado) e da competência cênica.
 Texto de Beatriz Del Picchia

4 comentários

  1. Gabriel disse:

    Olá Beatriz, acabei de encontrar seu blog e estou me deliciando, gateira que também sou, amante de livros, filmes e slow motion…
    Bom que deu até saudades de voltar pro meu blog e me arriscar novamente a colocar as ideia em palavras. Grata e estarei por aqui, rondando em silêncio… Grande abraço!

  2. Auira Ariak disse:

    Ops, sou eu de novo, antes não percebi que estava logada pela conta de outra pessoa. Agora sim, sou eu, Auira.

  3. Anônimo disse:

    Queridas, adorei os comentários e a vida é isto mesmo….um eterno convite ao inesperado NOVO.
    Saudades
    Neiva

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