O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Filme: Um sonho de amor

O filme começa mostrando cenas de Milão com neve, perfeita, fria.
Também perfeita e fria é a vida que leva Emma, esposa de um rico empresário.
Ela comanda suntuosos jantares, dá polimento à prataria, veste-se bem, cuida de seus familiares e exibe a bela figura que é.
Na verdade, parece figurante da própria vida.

O titulo original, Io sono l’amore, “eu sou o amor”, cai melhor nessa obra que mostra o amor como um poderoso chamado para a auto descoberta e para o despertar de novas possibilidades.
Idéia em si sem grandes novidades, mas que aqui tem outras nuances, longe das habituais nas comédias românticas.

O pano de fundo é a hipocrisia que embeleza, como fina camada de seda, a ganância e sede de poder de uma família burguesa tradicional.
Bons empresários, eles se adaptam com mais facilidade às mudanças no mundo dos negócios do que às mudanças de valores nas relações pessoais. As mulheres, inclusive a jovem filha, seguem coadjuvantes como se não tivéssemos passado para o sec XXI.

Emma (não por acaso, uma referencia à Bovary?) sufoca sua alma russa, país que abandonou, inclusive mudando de nome (“não me lembro mais de como eu me chamava…” ela diz) para se enquadrar na moldura de ouro onde congela.
Isso dura até que ela se apaixona por um amigo do filho, o que vai provocar ruptura, tragédia e por fim sua redenção.

O amigo do filho é um chef de cozinha, e o elemento que deflagra a tragédia é um prato da culinária russa – temos então comida e sexo, a natureza abandonada que afinal cobra seu preço.
A estética refinada e um pouco distante persiste nas cenas de campo, de sexo e de dor, e na forma com que passeia pelo corpo e rosto da atriz principal, Tilda Swinton, ela em si um panorama.

Dirigido por Luca Guadagnino (100 Escovadas Antes De Dormir, 2005), esse filme luxuoso e minimalista em detalhes e diálogos foi indicado ao Oscar de melhor figurino.
 Texto de Beatriz Del Picchia

2 comentários

  1. Lucia disse:

    o filme é muito bonito, boa reflexão!
    Estou curiosa para saber o que vai achar de Pina, que estreia por aí dia 11. Não deixe de assistir em 3D!

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