Hetaira, entre a prostituição e a liberação
Não foi a toa que Chico Buarque escreveu sobre as submissas Mulheres de Atenas. A sociedade grega era extremamente patriarcal. Mas uma classe de mulheres escapavam um pouco disso: as hetairas.
“Para algumas mulheres gregas, a profissão de hetaira oferecia uma alternativa mais independente e relativamente respeitada ao papel submisso de esposa. Embora as hetairas tenham sido equiparadas de forma errada às prostitutas, essa não era a visão dos antigos gregos.
A hetaira mais se assemelhava às cortesãs que nos séculos XVII e XVIII, na Europa, com freqüência exerciam importante poder político. Elas eram anfitriãs habilidosas, com variados graus de educação e interesse cultural.
Contudo, o mais interessante são os registros das hetairas estudiosas e até mesmo figuras públicas de destaque. “As hetairas das cidades-estados de Jônia e Etólia eram consideradas as mais brilhantes”, escreve Boulding. “Duas das alunas mais conhecidas de Platão eram Laxênia de Mântua e Axiotéia.” Aspásia, que tanto contribuiu para a cultura ateniense, é considerada uma hetaira.
Talvez mais importante seja a evidência de algo na antiga Grécia que indica um movimento de retomo a uma organização social na qual as duas metades da humanidade não estão em conflito — assemelhando-se talvez a um movimento de liberação feminina.”
Fonte: O calice e a espada, Riane Eisler, Ed. Palas Athena