O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Janis Joplin por Clarissa Pinkola Estés

Janis Joplin

Mulheres tantas vezes normalizam serem reduzidas a terem a vidas áridas e cruéis, a adaptarem-se a modelos nos quais não se encaixam, a abrirem mão dos instintos, de seus desejos importantes, das expressões da alma… sem sequer perceberem como isso lhes faz mal. No livro Mulheres que correm com os lobos Clarissa fala de Janis Joplin:

“Quando era adolescente, Janis Joplin tentou se adaptar aos costumes da sua cidadezinha. Mais tarde, ela se rebelou um pouco, escalando os morros à noite e cantando lá de cima, andando na companhia de “artistas”. Depois que seus pais foram chamados à escola para dar conta do comportamento da filha, ela começou uma vida dupla, agindo na superfície com modéstia, mas atravessando escondida a fronteira para ouvir Jazz. Ela entrou para a universidade, adoeceu gravemente em virtude da dependência às drogas, “recuperou-se” e tentou levar uma vida normal. Aos poucos, ela voltou a beber, formou uma pequena banda, envolveu-se com drogas e assumiu de vez os sapatos vermelhos. Ela dançou e dançou até morrer de overdose aos vinte e sete anos de idade.

Não foi a música, o canto nem a vida criativa finalmente liberada de Janis Joplin que a mataram. Foi a falta de instinto para reconhecer as armadilhas, para saber quando basta, para criar limites para a defesa da saúde e do bem-estar, para entender que os excessos quebram alguns ossinhos psíquicos, depois outros maiores, até que finalmente todo o esqueleto de sustentação da psique cai por terra e a pessoa vira uma massa amorfa em vez de uma força poderosa.

Ela precisava somente de uma sábia imagem interna à qual pudesse se agarrar, um resquício de instinto que durasse até que ela pudesse dar início ao longo trabalho de reformulação do instinto e da percepção íntima. Ela só precisava dar ouvidos à voz selvagem que vive dentro de todas nós, a que sussurra, “fique aqui o bastante… fique o tempo necessário para reanimar sua esperança, para abandonar seu sangue-frio  terminal, para renunciar a meias-verdades defensivas, para se insinuar, para abrir caminho com precisão ou com violência; fique aqui o suficiente para ver o que é bom para você, para se fortalecer, para fazer aquela tentativa que terá sucesso; fique aqui o suficiente para completar a corrida, não importa quanto tempo demore ou de que forma isso ocorra”.

 

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