O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Mais um mito de criação Feminino

Mais um mito onde o criador é uma criadora: A Mulher Pensadora ou Tse che nako. Esse mito é dos povos nativos norte-americanos keres, que vivem no Novo México desde os tempos pré-colombianos e também está no meu livro “O Legado das Deusas”.
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No começo dos tempos, a Mulher Pensadora, ou outra de suas formas, a aranha Sus’sistinako, morava num espaço que lhe pertencia, que não era nem frio, nem quente, nem claro, nem escuro, mas nele existia o poder cristalino e vibrante do vazio. Era o poder do pensamento claro, dos sonhos criativos, sem formas nem movimentos,mas que vibravam como um som contínuo, completo e belo. Usando esse som que aparecia à sua frente como se fossem ondas e fios, ela começou a pensar e tecer o mundo, uma coisa de cada vez, com paciência, precisão e arte: primeiro o Sol, depois a Lua e depois as estrelas. Ainda com o som, seguindo seus pensamentos, seu canto e sua tessitura, criou as irmãs divinas, suas filhas Naotsete e Uretsete.
As duas filhas, ao lado de Tse che nako, também começaram a pensar, tecer e cantar sem parar, e globos de luz passaram a se formar, configurando uma enorme espiral de estrelas que foi morar no
firmamento. Na sequência, com os pensamentos criadores, fizeram surgir novos globos de luz que, dançando e vibrando, originaram todos os planetas.
O seu trabalho de pensar com o auxílio das filhas criou ainda os mares, os rios, as plantas, as florestas, os minerais e os katchinas, as personificações espirituais dos elementos da natureza e dos ancestrais. À medida que ela continuava pensando, novas ondas e fios apareciam
e, com eles, foram gerados os animais. No fim de tudo, surgiram os seres humanos.
Mas a criação não parou por aí: murmurando e cantando, a Mulher Pensadora continuava a pensar, e o poder se manifestava em toda parte, com outros sons e canções que passaram a ser ouvidos à medida que a criação se manifestava. O poder girava, cantava e dançava até se expandir aos confins do universo.
A Criadora olhou sua obra, sorriu para suas filhas e cada uma delas passou a criar e a cuidar de novos mundos e seres, preenchendo todo o universo com inúmeros níveis e planos de criação.
A Mulher Pensadora ainda fez mais, pois não restringiu a capacidade de criar a si própria e as suas filhas divinas: confiou a todos os seres humanos o dom de criar com o pensamento. Assim, mulheres e homens são cocriadores do mundo, embora em graus diferentes: o pensamento de cada indivíduo é, logicamente, menos poderoso do que o da Deusa, mas a humanidade também é responsável pelo mundo em que vive. E com isso ele nunca está totalmente acabado, mas
em processo eterno de criação e recriação!

1 comentário

  1. LAURA CRISTINA VIZONI BOUDLER disse:

    Adorei! Obrigada.

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