O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Minhas personagens femininas marcantes – parte 1

Estou lendo um livro que está me virando do avesso: LAMENTO DOS MORTOS. São conversas entre James Hillman e Sonu Shamdasani sobre o LIVRO VERMELHO do Jung. Mas não é sobre esse livro fantástico o que quero falar, mas sob uma reflexão (entre inúmeras) que ele me despertou.
Na 12 conversa, James Hillman fala que personagens literárias são realidades psíquicas. Essa constatação me remeteu às personagens femininas literárias que me formaram e que, de certa maneira, vivem dentro de mim. Reconheço que, de alguma forma, cada uma delas foi uma Mestra para minhas escolhas e para o caminho que trilho. Quero escrever sobre elas porque são para mim tão importantes quanto as mulheres reais que me impactaram e me influenciaram em minha jornada na vida.
Vou começar de trás para frente, com aquelas que povoaram minha infância e minha primeira adolescência e que, pela idade que eu tinha, tiveram um impacto muito poderoso. Claro que quando eu era menina não tinha a clareza que tenho hoje de ver onde, como e quanto elas me influenciaram; a análise que faço é o que percebo hoje. Mas, vamos a elas!
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NARIZINHO – (Coleção Sítio do pica-pau amarelo/Monteiro Lobato)
Narizinho foi meu primeiro amor literário! A primeira coisa que me fascinou nela foi o vestido com que ela casou com o príncipe Escamado: era azul e verde de todas as cores do mar e mais que isso, com todos os peixinhos nadando dentro dele! Nenhum vestido do mundo podia se comparar a isso – ela virou minha “ídola” nessa hora. Além disso sua vida era pura aventura, tinha o afeto sábio de uma avó contadora de histórias incríveis, o companheirismo de um primo super legal e uma boneca de pano que falava e ainda era doida de pedra! E, para a menina que eu era, mesmo sem saber por em palavras, eu sentia que ela era livre para ser ela. Narizinho foi o principal modelo da minha infância imaginativa: um modelo e tanto, reconheço, rico, amplo, cheio de sutilezas e possibilidades.
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POLLYANA – (Pollyana e Pollyana moça/ Eleonor H. Porter)
Eu adorava em Pollyana sua relação imensamente prazerosa com a beleza! A beleza a emocionava e dava “vida à vida” para ela e ela queria trazer isso para os outros. Lembro dela arranjando os prismas de cristal pendurados na janela do quarto do Sr. Pendleton para trazer o sol e o arco-irís para dentro dele. A beleza sempre também foi importante para mim,  não a beleza das pessoas – e não era isso também que contava para ela – mas a beleza da própria vida, da natureza, de um arranjo harmonioso de objetos, até a apreciação estética da compreensão intelectual de um problema. Nesse sentido me identificava e ainda me identifico com ela. E também com sua visão otimista da vida. Eu acho que olhar um copo com água pela metade e considerar se ele está meio cheio ou meio vazio é uma questão de escolha. E Pollyana (e eu também) sempre escolheu que ele estava meio cheio!
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ANNE SHIRLEY (Anne de Green Gables/ L. M. Montgomery)
Anne Shirley era imaginação pura. Uma menina extremamente tagarela, que tinha sofrido muito na infância, mas não tinha perdido a alegria de viver e de se espantar e se encantar com o mundo. Acompanhar sua forma de ver e pensar, muitas vezes quase non sense,  me deliciava: o mundo podia ser muito mais mágico do que a gente supõe! Além de tudo era ruiva e cheia de sardas, o que era meu desejo secreto de ser – achava isso a coisa mais chique do mundo!
Todas as três personagens têm características que eu admiro até hoje: ousadia, coragem, liberdade de pensamento e imaginação e uma imensa curiosidade com a vida.

1 comentário

  1. Ana disse:

    Lindo !! Não conhecia a Anne Shirley, só a Pollyana (que uma menina que morava comigo em uma república falava dela, e essa menina era bem independente, não tinha muitos sonhos românticos, mas era muito afetuosa e companheira! ) e a Narizinho.Grata

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