O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Feminino e os Livros: MEDITAÇÕES PAGÃS

O livro MEDITAÇÕES PAGÃS – os mundos de Afrodite, Ártemis e Héstia, foi escrito por Ginette Paris, psicóloga canadense e psicoterapeuta junguiana e lançado em 1994 pela Editora Vozes, na coleção Psicologia Analítica. É um dos livros mais originais que já li, original e meio radical, devo dizer. 
A autora é uma feminista assumida e uma crítica feroz do que as religiões cristãs e judaica fizeram contra as mulheres. Para se contrapor a isso vê no resgate do politeísmo grego e em suas deusas um caminho de cura dessa ferida e um aprofundamento na riqueza do feminino. 
Vai falar de cada deusa em um capítulo e abordar temas concernentes a seus mitos e a suas características e, ao mesmo tempo, relacioná-los a questões das mulheres contemporâneas e com as críticas atuais ao patriarcado.

 Sobre Afrodite escreve em primeiro lugar sobre a Beleza no seu sentido mais amplo: aquilo que faz nossa vida melhor. Gostei MUITO da relação que ela faz entre a beleza do deus Apolo/masculina, que está ligada as coisas que duram, como templos, esculturas, regras da poesia, e a de Afrodite/do princípio feminino, ligada a beleza do efêmero como as flores, as roupas bonitas, uma mesa bem arrumada. Como diz, ambas as belezas – das coisas que duram e das que não duram – fazem bem, enriquecem a vida e são sagradas e uma não é mais importante que a outra. Sensacional: não é porque uma flor não dura que sua beleza é menos importante que a de um palácio! 
Depois vai discorrer como as religiões cristãs e judaícas associaram o desejo, o amor carnal, a sexualidade, a alegria e as mulheres (a não ser as castas ou as mães virgens) ao Mal, ao pecado e como Afrodite é uma deusa que prega o contrário, vendo no amor, em todas suas manifestações, expressão da dimensão sagrada da vida. A sua análise de como a repressão da sexualidade e do erotismo, especialmente das mulheres, criou uma civilização doente e foi um desserviço à vida de todos nós, mulheres e homens, é profunda! 
À Afrodite é dedicada a parte mais extensa do livro e são tantas idéias, reflexões e nuances que não cabe num post. Numa das últimas páginas do capítulo resume: “O culto a Afrodite não é o culto a si mesmo e a própria beleza; é a hábil doação de si mesma”. Honrar Afrodite é buscar uma relação homem-mulher muito mais saudável, adulta e amorosa. 

Na parte de Ártemis, trata da necessidade oposta e complementar a Afrodite, de manter em cada um de nós uma parte “virgem”, intocada pelos outros. É a busca da solidão para cultivar a autopresença, o desejo de tomar posse de si, a liberdade de se auto definir a partir da gente mesmo, sem um contraponto do outro. 
Vai falar também que honrar Ártemis, a deusa da fauna e flora é não poluir as águas, respeitar as florestas (que se chamam virgens, porque antes eram “florestas da virgem”), os animais, a vida selvagem como um todo, da visão ecológica da atualidade. 
E também, num dos aspectos mais radicais do livro, vai falar do parto e do aborto, temas de Ártemis. 

A última parte fala de Héstia, a deusa da lareira e do fogo sagrado do lar e da cidade. Fala de como as mulheres estão muitas vezes deixando “suas casas/seus lares”porque lá já não habita o fogo sagrado! Vai além e faz inclusive uma análise bem original da arquitetura. 
E terminando essa parte reflete de como, novamente, as religiões centradas em Deus Pai, tirou a sacralidade da Terra e a colocou no “céu”, no alto e como isso significou a atitude predatório que temos hoje com nosso planeta. 

Encerra o livro perguntando se devemos ver todas as deusas como manifestações da Grande Mãe, num monoteísmo parecido com as religiões judaícas cristãs ou se devemos experimentar um politeísmo que talvez dê muito mais conta da nossa diversidade! 

Como disse no início é um livro muito singular e que apesar de não ser muito grande (pouco mais de 200 páginas) traz uma riqueza de idéias novas impressionante! Para quem quer se aprofundar nos temas do Princípio Feminino, para mim, esse livro é tão importante quanto os da Marion Woodman e da Jean Shinoda Bolen.

 

 

Texto de Cristina Balieiro

4 comentários

  1. Oi Cristina,

    esse livro realmente é maravilhoso e complementa o trabalho da Marion Woodman.
    Uso muito como referência para as atividades dos grupos que coordeno.
    Ótima dica!
    Abraço

  2. Imaginei mesmo que vc conhecesse Cristiane…parece que navegamos por mares muito parecidos!
    Bjs
    Cris

  3. LizandraMA disse:

    Pronto, lá vou eu para a Estante Virtual…

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