O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Feminino e os Livros: O SEMELHANTE

O SEMELHANTE é um livro de poesia, de Elisa Lucinda, editado pela Editora Record em 2000. Elisa escreve poesia, além de lindamente, de uma forma como só uma mulher escreveria. E isso se dá pelos temas que escolhe, pelas imagens, pelas metáforas, pela linguagem. 
Acho que antes de continuar devo esclarecer, apesar de meio óbvio mas para que não haja mal-entendidos: não sou nem de longe capacitada como crítica literária. Tudo que falo sobre livros aqui, é única e exclusivamente minha opinião baseada na experiência totalmente pessoal que tive e tenho na leitura deles. 

Dito isso, os poemas da Elisa Lucinda me parecem quase coisas táteis, como se tivessem cheiros, gostos, substância. E falam, sem o menor pudor do ser mulher. Vejam alguns trechinhos de alguns poemas: 

 “Um dia quando eu não mestruar mais 
Vou ter saudades desse bicho sangrador mensal 
que inda sou 
que mata os homens de mistério…” 

 “….E aí quando quer agredir 
Chama de vaca e galinha 
São duas dignas vizinhas do mundo daqui! 
O que você tem para falar de vaca? 
O que você tem eu vou dizer e não se queixe: 
VACA é sua mãe. De leite 
Vaca e galinha… ora, não ofende. Enaltece, elogia: 
comparando rainha com rainha 
óvulo, ovo e leite 
pensando que está agredindo 
que tá falando palavrão imundo. 
Tá não, homem. 
Tá citando o princípio do mundo!” 

Seus poemas falam também e, de novo sem mesuras, comedimentos ou qualquer bobagem parecida, sobre amar e ter tesão por um homem – mais alguns trechinhos: 

“Iluminado o Deus que patrocina os encontros 
Iluminado o ponto onde combinamos de nos encontrar 
o sol a cachoeira o vento 
Tudo é pontual sem se telefonar 
Abençoado o fogo que sobe pela árvore do corpo 
sem avisar”. 

“…Eu te amo como quem esquece tudo 
diante de um beijo:
as inúmeras horas desbeijadas 
os terríveis desabraços 
os dolorosos desencaixes 
que meu corpo sofreu longe do seu”. 

E poemas que são tão sobre questões nossas: 

“Minha casa está uma bagunça só 
Quando é assim 
A alma também está e por isso a casa fica, 
ou a casa fica porque a alma está”?…. 

E falam também sobre o essencial em sermos inteiras na vida: 

“Quero ser minha para poder ser sua 
Quero nunca mais partir 
Pra longe de mim.”… 

E sobre um tipo de posicionamento na vida: 

 “…Abaixo o estéril arrependimento 
a duração inútil dos rancores 
Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: 
a vida inédita pela frente 
e a virgindade dos dias que virão!” 

Pela pequena amostra vocês podem ver como Elisa fala de nós e para nós mulheres: livro e poeta imperdíveis! 

 

 

Texto de Cristina Balieiro

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