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O mito da convivência em Amsterdam

Na frente da casa da Anne Frank, em Amsterdam, um guia turístico me disse que hoje esta é uma cidade que acolhe todas as pessoas, de todas as procedências, e comporta todo tipo de diversidade.
Já um chofer de taxi turco afirmou que os imigrantes não são assim tão bem acolhidos, que o povo é tão frio quanto o clima, e que esta cidade é “um lugar chato, onde nada acontece”.
Bom, não sei quem tem razão, mas do meu ponto de vista lá acontece muita coisa. Por exemplo, nos quadros de Vermeer e Rembrandt, a respeitabilidade burguesa dos cenários escuros explode nas risadas das pessoas retratadas, de cabelos loiros e rostos vermelhos, geralmente comendo e bebendo muito.
E em Van Gogh, meu deus, tudo é explosão.
Nas ruas e nos belíssimos canais cheios de cisnes, a mesma respeitabilidade convive com os jovens (e como tem jovens aqui!) alternativos e com a proximidade do Red District, o das prostitutas nas janelas.
Lá, filas de turistas de meia idade, homens e mulheres, são conduzidos pelos guias (com bandeirinhas e tudo) para passar na frente das janelas, como se estivessem numa espécie de Disneylandia para adultos.
Eles olham, ficam em silencio ou dão risadinhas, dependendo da nacionalidade, e se divertem sem perder a respeitabilidade, embora colados uns nos outros, nunca se sabe, ai a diversidade…
Aqui também é proibido fumar dentro dos bares (nas mesas ao ar livre pode). Fumar cigarros, bem entendido. Maconha pode. O que cria uma situação curiosa, para dizer o mínimo. Agora, parece que proibiram a venda para turistas.
Enfim, é como se duas idéias antagônicas (a hippie É proibido proibir e a moderna É proibido descuidar da saúde) convivessem, acolhidas, no mesmo lugar.
Bati a foto acima num pequeno canal. Nela convivem um prédio de apartamentos, um barco residência, um carro, uma moto, uma bicicleta, água e terra, canal e rua. Tudo juntinho, apertado, bonito, civilizado.
Ela ilustra a diversidade de Amsterdam, lugar onde ideias contraditórias se acotovelam, trazendo a leve esperança de que o mito da convivência pacifica entre os diversificados e contraditórios seres humanos pode ao menos tentar se realizar. 
 Texto e fotos de Beatriz Del Picchia

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