O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O mito do grande massacre das mulheres

onas1

Na tribo dos onas, da Terra do Fogo, há um mito que relata como os homens massacraram todas as mulheres da tribo, deixando apenas meninas bem pequenas para futura procriação e tomando medidas para mantê-las subjugadas. Há mitos similares nos pigmeus da África, nos nossos índios guaranis e em outros povos. Mas qual a causa desse massacre?

Em resumo bem sucinto, de acordo com inúmeras fontes, nas idades mais remotas da história humana as mulheres eram consideradas como dotadas de enorme força mágica, pois ainda não se conhecia a relação entre o ato sexual, a gravidez e o parto. A capacidade de parir dava às mulheres onas6um poder prodigioso, e os homens sentiam-se excluídos desse misterioso processo vital  e temerosos do poder que elas tinham. Mitos como o do massacre das mulheres tratam de como eles tentaram quebrar, controlar e usar o poder feminino para seus próprios fins.

E fica a pergunta: será que esse medo ancestral do feminino não permanece ainda em nosso inconsciente coletivo?

Todas essas informações vieram do livro Mitologia Primitiva (ed. Palas Athena), de Joseph Campbell, que por sua vez apoiou-se em inúmeros estudiosos e autoridades da área. Esse foi o tema do Primeiro Encontro de Mitologias do Feminino e que gerou muitas ideias, discussões e inspirações para todas que participamos. O próximo Encontro será dia 15/10, as 10 hs, na mesma Livraria Millenium, convite ao lado. Abaixo o mito dos onas, um pouco resumido.

 

onas4

“Nos dias em que toda a floresta era sempre verde, antes do periquito ter pintado as folhas de outono de vermelho com as tintas de seu peito, antes dos gigantes perambularem pelos bosques com suas cabeças acima do topo das arvores, nos dias em que o sol e a lua andavam pela terra como homem e mulher e muitas das montanhas adormecidas eram seres humanos, em tais tempos a feitiçaria era conhecida apenas pelas mulheres da terra dos onas.

Elas tinham uma confraria particular, da qual nenhum homem ousava aproximar-se. As meninas, quando estavam para se tornar mulheres, eram instruídas nas artes magicas, aprendendo a causar doenças e mesmo a morte em todos aqueles que as ofendiam.

Os homens viviam no mais profundo temor e sujeição. Certamente eles tinham arcos e flechas com as quais suprir o acampamento, mas mesmo assim, de que serviriam tais armas contra a bruxaria e a doença? Essa tirania das mulheres foi de mal a pior até que ocorreu aos homens que uma bruxa morta era melhor que uma bruxa viva. Eles conspiraram para eliminar todas mulheres, o que acabou resultando num grande massacre, do qual nenhuma mulher escapou com forma humana.onas2

Mesmo as mais jovens foram mortas com as demais, de modo que os homens se viram sem esposas. Para tê-las novamente eles tinham que esperar até as meninas se transformassem em mulheres. Enquanto isso, surgiu a questão: como poderiam os homens manter o poder agora que os tinham conquistado? Um dia, quando as meninas crescessem, elas poderiam juntar-se novamente e reconquistar seu domínio.

Para evitar que isso acontecesse, os homens inauguraram sua própria sociedade secreta e baniram para sempre a confraria das mulheres, na qual tantas intrigas tinham sido tramadas contra eles. Nenhuma mulher poderia aproximar-se das confrarias dos homens, sob pena de onas3morte.

Para assegurarem-se de que sua vontade seria respeitada pelas mulheres, eles criaram um novo ramo da demonologia onas: uma coleção de seres estranhos – extraídos em parte de sua imaginação e em parte do folclore e antigas lendas – que assumiriam formas visíveis, personificando-se nos membros da confraria e assim espantando as mulheres dos Conselhos secretos dos homens. Fez-se saber que tais criaturas odiavam as mulheres mas eram bem intencionadas com os homens, chegando mesmo a oferecer-lhes alimentos misteriosos durante as prolongadas reuniões da confraria.”

 

2 comentários

  1. Nara Thaís disse:

    Caramba, nunca imaginei existirem histórias de massacres especificamente das mulheres. E que ferida na nossa ancestralidade né? Mais uma. Esse livro do Campbell eu não conheço. Recomendam começar por ele? Gratidão. Adoro o site de vcs. Muito inspirador e aprendo sempre.

    1. crisbalieiro disse:

      Oi Nara, quando a gente conhece melhor os mitos e a história também vê o quanto a cultura nos feriu e nos fere, né? Quanto aso livros do Campbell, para começar a ler eu diria que “O poder do mito” é bem legal. Vc pode também assistir a serie que inspirou esse livro e que tem o mesmo nome – tem em DVD. E obrigada por prestigiar nosso site. Abraço

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.