O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O que eu sei que precisa morrer mas hesito em permitir que isso ocorra, pergunta Clarissa Pinkola

Fala-se muito em ego, geralmente em tom depreciativo – mas pouco se explica como saber o que vem do ego e o que não vem.

Em MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS, Clarissa diferencia o ego da alma em 3 aspectos e fala como “prestar atenção à voz interna que não é a do ego”, que está mais próxima à natureza. E como essa natureza, que é vida-morte-vida, nos induz a deixar ir o que não pode mais ficar para que o novo possa surgir.

Assim, ela sugere que com frequência a gente se pergunte coisas como: “Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar mais vida? O que precisa morrer em mim para que eu possa amar?”

 

Três aspectos diferenciam a vida a partir da alma, da vida a partir do ego apenas. Eles são a capacidade de pressentir novos caminhos e de aprendê-los, a tenacidade necessária para atravessar uma fase difícil e a paciência para aprender o amor profundo com o tempo. O ego-corvo, no entanto, tem uma queda e uma predisposição para evitar o aprendizado. A paciência não é o forte do ego. Nem o relacionamento duradouro. Portanto, não é a partir do ego inconstante que amamos o outro, mas, sim, do fundo da alma selvagem.

Como um homem aprende essas coisas? Como qualquer um consegue aprendê-las? Basta entrar em diálogo direto com a natureza da vida-morte- vida, prestando atenção à voz interna que não é a do ego. Aprenda perguntando à natureza da vida-morte-vida perguntas incisivas sobre o amor e sobre amar; e depois ouça as respostas com atenção.

Com isso tudo, aprendemos a não nos deixar levar pela voz irritante que nos diz do fundo da mente: “Isso é uma tolice… Eu é que estou inventando essas coisas.” Aprendemos a ignorar essa voz e a dar atenção ao que se ouve por trás dela. Aprendemos a seguir o que ouvimos — tudo aquilo que nos aproxima de uma percepção mais aguçada, do amor de devoção e de uma visão nítida da alma.

É bom adotar a prática diária de meditar sobre a repetição do ato de desenredar a natureza da vida-morte-vida.(…) Quando estivermos soltando essa natureza, seria bom que cantássemos algo mais ou menos assim: Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar mais vida? O que eu sei que precisa morrer mas hesito em permitir que isso ocorra? O que precisa morrer em mim para que eu possa amar? Qual é a não-beleza que eu temo? Que utilidade pode ter para mim hoje o poder do não-belo? O que deveria morrer hoje? O que deveria viver? Qual vida tenho medo de dar à luz? Se não for agora, quando?

Se entoarmos a canção da consciência até sentirmos o ardor da verdade, estaremos lançando uma labareda para dentro das trevas da psique de modo a poder ver o que estamos fazendo… o que realmente estamos fazendo, não o que queremos pensar que estamos fazendo. É assim que se desenredam nossos sentimentos e tem início a compreensão dos motivos pelos quais o amor e a vida devem ser vividos a partir dos ossos.”

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