O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Pachamama – parte 1


No meu novo lvro, uma das deusas é Pachamama, da tradição andina dos povos quéchua. Talvez tenha sido a que mais me encantou ao realizar minhas pesquisas – na verdade todas me encantaram – mas ela  de  forma ainda mais especial. E a ilustração que fiz dela acabou sendo a capa do livro e não por escolha minha, mas da editora que não sabia dessa especial fascinação que tive por ela: sincronicidades… E nesse momento tão complicado e difícil que estamos vivendo, acredito que é a voz Dela que devemos verdadeiramente escutar. Vejam um trecho sobre ela/seu mito que escrevi ainda o ano passado quando o livro ainda estava sendo construído.

A concepção religiosa quéchua vê Pacha como um todo, um universo onde estão juntos o tempo e o espaço. Pacha é formado por três mundos interligados: o Mundo de Cima/espaço (Hananpacha) onde estão o sol, a lua e as estrelas e tem como animal simbólico o condor; o Mundo Interior/superfície (kaypacha) onde estão a vegetação, animais e humanos e tem como animal símbolo o puma e o Mundo de Baixo/interior da Terra (Ukupacha) habitado pelas sementes e pelos mortos que tem como animal símbolo a serpente. Os três mundo formam um único todo em constante interação e são conectados por duas enormes serpentes que saem do Mundo de Baixo para ir para o Mundo Interior. Uma das serpentes tem a forma de um grande rio e é a fonte das águas. A outra tem a forma de uma imensa árvore. Do Mundo Interior as serpentes vão conectar-se com o Mundo de Cima, e nesse trajeto a primeira se transforma em Trovão e a segunda em Arco-íris.
Mama quer dizer a mãe de tudo. Pachamama (Pacha + Mama) então significa tanto a Mãe desse conjunto de mundos em constante e permanente fluxo de ligação e troca, como eles mesmos.

(…) Traduzir Pachamama por “Mãe Terra” é apenas utilizar o termo mais próximo que podemos encontrar. Não existe uma terminologia moderna que possa expressar seu vasto significado. Talvez o que chegue mais próximo de seu simbolismo mítico seja a Teoria de Gaia, uma hipótese de ecologia profunda que propõe que a biosfera e os componentes físicos da Terra são intimamente integrados, de modo a formar um complexo sistema que mantém as condições climáticas e biogeoquímicas em equilíbrio. É uma visão não mecanicista da vida e da Terra. É uma visão holística e sistêmica que vê a estreita interdependência de todos os seres vivos entre si e com o planeta, que também é vivo. Uma visão que enxerga a qualidade dessas relações como fundamental para que a vida de todos e de tudo, floresça, se mantenha e se perpetue.

É a essa mesma visão que o Chefe Seattle dos povos nativos norte-americanos, se refere numa carta ao presidente dos Estados Unidos, Franklin Pierce, em 1854 : “Tudo o que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra. O homem não teceu a teia da vida, ele é meramente um fio dela. O que quer que ele faça à teia, ele faz a si mesmo”.
Pachamama é a Teia da Vida, é Gaia e tudo o que Nela vive.

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