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PERSÉFONE e os ciclos de morte e renascimento

Seu mito 

Coré, que quer dizer donzela, vivia com sua mãe Demeter. Era uma típica filhinha da mamãe, até que Hades, seu tio e o Senhor do Mundo Subterrâneo e dos mortos se apaixona por ela. Um dia ela estava colhendo flores com suas amigas e vê um belíssimo narciso. Quando se abaixa para cheirá-lo a terra se abre e dela surge Hades em sua carruagem que a rapta e a leva para o mundo inferior. 
A mãe, Demeter sem saber onde está sua filha fica desesperada e como rainha das colheitas e dos grãos se recusa a fazer a terra florescer. Com medo que os homens morram de fome e não possam mais cultuar os deuses, Zeus (que era o pai de Coré) pede que Hermes vá até o Hades e a traga de volta. 
Mas, lá no mundo inferior ela havia comido uma romã e neste mundo quando se come alguma coisa, não se pode mais sair. Então há uma negociação entre os deuses e ela passa a viver 6 meses com Hades no mundo subterrâneo e 6 meses com sua mãe no mundo de cima. 
Mas, seja no mundo inferior ou no mundo superior ela não é mais a mesma! Sua estadia no mundo inferior a transformou radicalmente: Coré, a donzela “genérica” morreu. Morreu para que ela se transforme em Perséfone, Rainha do Mundo Subterrâneo que junto com seu marido Hades governava as almas dos mortos e tinha o papel de juíz da humanidade depois da vida. Será também a condutora dos Heróis gregos em suas viagens a esse mundo inferior! Não mais donzela, mas rainha! 

O que Perséfone pode nos ensinar 

Em primeiro lugar, que para amadurecer e nos tornarmos uma mulher adulta precisamos nos separar psicológicamente de nossa mãe. 
Isso significa ter consciência do que é dela – em termos de valores, visão de mundo, crenças, forma de viver – e do que é nosso. E, mais que isso legitimarmos quem nós somos. 
Normalmente isso é muito difícil porque, de certa maneira, nos sentimos traíndo nossa mãe e ela, muito frequentemente se ressente dessa necessária diferenciação. Só que se quisermos deixar de ser uma Coré – simbolicamente uma “filhinha da mamãe”e nos tornarmos Perséfone –uma mulher adulta, dona do seu destino, precisamos fazer essa separação, por mais dolorida que seja.

E, também, que a vida é cíclica e de tempos em tempos temos que morrer em forma antiga de ser para renascermos em uma nova forma, como quando deixamos de ser crianças para nos tornarmos adolescentes. 
O processo de amadurecimento não acontece sem tempos de mergulho na dor e no “escuro”. Essa morte da forma antiga sempre implica, de certa forma em perda e em luto. E também em ganhos e celebração. 
Temos muitas vezes que alternar tempos luminosos onde estamos no “mundo de cima”e tempos sombrios, onde estamos no “mundo de baixo”, assim como Perséfone. 
Sem aceitarmos essse ciclos de morte e renascimento não conseguimos seguir na vida, vivendo em plenitude e cumprindo nosso destino de sermos cada vez nós em nossa essência. 

Texto de Cristina Balieiro

Esse artigo foi publicado anteriormente no site http://www2.uol.com.br/vyaestelar – na categoria A MULHER E O MITO, na qual escrevo quinzenalmente.

3 comentários

  1. Ana Carla disse:

    Bom dia, Cristina! Texto perfeito pro meu momento… adoro essa conexão do Universo! Hehe… Beijo!

  2. Como diz mestre Jung, sincronicidades….
    Bj
    Cris

  3. Ana Nazaré disse:

    Olá, boa noite, gostei muito do artigo, existe algum livro que vocês possam me indicar, para aprofundar nesse tema ? (a separação psicológica da mãe)? Obrigada

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