O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Poesia é remédio – O vôo, de Menotti Del Picchia


Poesias são tão abrangentes, tão plenas de ritmos, significados, imagens… Elas nos pegam de um jeito esquisito, difícil de definir. Uma palavra, um sentimento que vem ao nosso encontro e – pimba! Bate.
Por isso, não acredito muito em criticas acadêmicas sobre elas.

Mas acredito em seus poderes: elas podem ser curativas, inspiradoras, instigantes, revolucionarias, questionadoras, filosofantes, “romantizantes”, encorajadoras, acalentadoras, etc.

Então, acho que podem ser usadas como remédios para estados de espírito esquisitos que nos tomam de assalto (aviso que poesias também podem causar imprevisíveis efeitos colaterais, mas valem o risco).

Por exemplo, eu leio essa quando estou me sentindo meio angustiada com a falta de sentido das coisas, ou pequena demais, transitória demais, ou simplesmente quando duvido de que tenho algo para criar ou cantar.

Recomendo. Uma vez por dia, ao levantar de manhã, junto com o café.

O Vôo

Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
desabam no abismo.

Que sabes tu do fim?

Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.
conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.

No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.

Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.

Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.

Menotti Del Pichia

2 comentários

  1. Anônimo disse:

    faltaram os dois versos finais:

    O Vôo

    Goza a euforia do vôo do anjo perdido em ti.
    Não indagues se nossas estradas, tempo e vento,
    desabam no abismo.
    Que sabes tu do fim?
    Se temes que teu mistério seja uma noite, enche-o de estrelas.
    Conserva a ilusão de que teu vôo te leva sempre para o mais alto.
    No deslumbramento da ascensão
    se pressentires que amanhã estarás mudo
    esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.
    Canta. Canta para conservar a ilusão de festa e de vitória.
    Talvez as canções adormeçam as feras
    que esperam devorar o pássaro.
    Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo. Rumo do céu?
    Que importa a rota. Voa e canta enquanto resistirem as asas.

  2. É de "lamber os beiços", tomar esse remédio…
    Cheguei aqui, procurando esse poema do, poetão, Menotti Del Picchia. Adoro!

Deixe um comentário para Lúcia Bezerra de Paiva Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.