O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Prática de percepção: ESCOLHER.


 A Dama escolhe apenas uma entre as jóias da caixa que a ajudante lhe oferece.
Sobre a tenda da Dama está escrito: A meu único desejo, porque onde está seu único desejo está seu tesouro e seu coração. Entre tantas coisas que nos cercam, como descobrir e escolher onde está nosso verdadeiro desejo, e portanto nossa felicidade?
A ideia destas práticas simples é prestar atenção às nossas sensações corporais e percepções, e conectá-las a nosso mundo interno. Se quiser mais informações sobre isso, clique AQUI.
Não é preciso ter feito as práticas anteriores para fazer a de hoje, que consiste em:
1.AFASTAR OUTROS ESTÍMULOS E CONCENTRAR-SE SÓ NISSO. Não mexer nem olhar para o computador, celular, televisão, desligar o som, não falar.
2.COLOCAR NA FRENTE APENAS UM OBJETO QUE TEM GRANDE VALOR PARA VOCÊ (valor de qualquer tipo: simbólico, monetário, afetivo, sentimental, etc) e USAR TODAS AS PERCEPÇÕES das praticas anteriores para apreende-lo.
3.DAR QUALIDADES A ESSE OBJETO, PERCEBER OS SENTIMENTOS que ele traz e FAZER ASSOCIAÇÕES EMOCIONAIS. Eu sigo mais ou menos o roteiro abaixo, mas não é preciso responder todas essas questões. Outra opção é se concentrar em apenas uma ou duas das perguntas.
4. DURAÇÂO: ALGUNS MINUTINHOS
Para ilustrar, abaixomeu exercício.
E se a gente notar que nossa vida fica mais intensa quanto menos demandas não vitais ou supérfluas tem, OBA!  E se descobrirmos o que realmentedesejamos, OBA OBA! Estamos descobrindo a mais bela das joias da Dama!
Roteiro: Esse objeto tem algum cheiro? E sabor?  Faz algum som? É agradável de ver? Se fosse guarda-lo, onde o poria? Ele me faz recordar alguma outra coisa, pessoa, época da vida ou experiência? Ele me traz a mente alguma palavra, imagem, ideia, vontade? Que tipo de valor ele tem para mim: sentimental, monetário, estético, afetivo, intelectual, místico, afetivo..?  O que eu perderia (simbolicamente ou não) se ele sumisse: uma parte de minha identidade, do meu passado, da minha riqueza, da minha relação com alguém, da minha auto estima…? Possuo outras coisas importantes como ele ou tenho poucas coisas as quais dou valor como a ele? Desejo muitas coisas? A maioria das coisas que busco ou desejo tem o mesmo tipo de valor que esse objeto tem? Se tivesse que escolher uma única coisa para salvar de um incêndio, seria esse? Se tivesse que escolher um único desejo para realizar, qual seria?

O anel
Coloco na minha frente o anel que minha avó me deu num Natal de muito tempo atrás.  Naquela noite, ela me contou que o havia ganhado de sua sogra, lá pelos anos 30, e que agora ele seria meu.
Abri a caixinha.
Um anel de pedra azul cercada por marcassitas. Não tem valor monetário, mas é um belo desenho clássico de rosácea.
Guardo-o desde então. Tem gosto de peru de natal, o som dos risos das minhas primas, cheira ao azevinho do quintal, traz a excitação da abertura dos presentes sob a arvore e das guerras de travesseiros que fazíamos até a madrugada chegar. É minha protegida infância na grande casa da vovó.
No meu dedo, vejo que ele ainda combina comigo, parceiro antigo que de alguma maneira consegue me acompanhar, pois afinal sou hoje tão diferente do que fui, sou tão diferente deles, e no entanto também sou o que já fui, e também sou como eles.
Seu formato de muitas pétalas rodeando o centro se parece com a minha vida, já que eu também tenho interesses muito diferentes entre si.
Poesia, contos de fadas, historias de vida, mística e psicologia, imagens e palavras, arvores e viagens, tijolos, janelas e telhados, plantas e pedras vão se acumulando em torno de mim, o núcleo que tenta juntá-los no cotidiano.
Então às vezes minha rosa fica meio confusa ou disforme, mas quando você gosta de juntar coisas diferentes esse é o risco que corre.
Por fim, esse anel é a tradição que foge à tradição, porque quando eu o der à minha filha provavelmente ela lhe incutirá outro sentido e significado.
Assim é uma mandala, a individuação, o centro-em-si-mesmo: pessoal e intransferível.
Quando perguntaram à Adélia Prado o que ela ainda queria da vida, respondeu:
Alcançar minha plenitude. O que mais há para se querer?
Bom, eu também, a minha.
E acho que se ela tiver alguma forma deve ser a de uma rosa de misterioso centro azulado, cercado por infinitos e enredados brilhos de tudo que me faz ser.
Texto de Beatriz Del Picchia, imagens das tapeçarias da Dama e o Unicórnio expostos no Museu de Cluny, Paris.

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