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Rapunzel pergunta: que torre confortável te prende?

Rapunzel

Em Mulheres que correm com os lobos, Clarissa Pinkola fala como é difícil sair das torres da vida: – “Com frequência, ouvimos vozes interiores que nos estimulam a recuar, a permanecer na segurança. Essas vozes dizem frases como as que se seguem (…) “Tudo é perigoso lá fora”, “Quem sabe o que será de você se insistir em sair desse ninho quentinho” ou “Você só vai se humilhar, sabia?” ou ainda, a sugestão mais insidiosa, “Finja que está se arriscando, mas em segredo continue aqui comigo”. Todas essas são vozes da mãe-boa-demais assustada e bastante desesperada dentro da psique”.

Essa questão é a que me inspirou para a história de Rapunzel no livro Às vezes princesa, às vezes não, trecho abaixo. Rapunzel está numa torre confortável, e quando pede para sair sua tia bruxa lhe diz coisas assim: “… Sair daqui para que? Lá fora é feio e perigoso, e aqui você sempre terá tudo do bom e do melhor!”

Tem época em que nós nos metemos ou somos metidas em torres cômodas, mas que de verdade nos aprisionam. Uma mãe, um emprego, uma família, um relacionamento ou nós mesmas, em vozes internas vinda do medo, podem ser nossas “tias bruxas”, que até às vezes tem boas intenções.

Mas claro que (spoiler!) no conto com final feliz, Rapunzel escapou da prisão e a bruxa ficou indignada. E, lá do alto da mais alta janela da torre, ficou gritando para a moça que fugia dela:

“- Volte, Rapunzel! O Caminho é perigoso! Você está horrível de cabelos curtos! Você não sabe fazer nada! Você não vai encontrar lugar melhor do que a Torre para viver! Vai morrer de fome! Vai se arrepender! Vai ser roubada, enganada, assassinada! Vai encontrar apenas ladrões, estupidos e bandidos! Ninguém vai cuidar de você tão bem como eu! Você é uma ingrata! Vai se dar mal! Muito mal!

Mas Rapunzel nem olhou para trás. Desceu até o fim da trança e entrou no Caminho Verde que a levaria mundo afora.

– Pelo resto de minha vida nunca mais haverá Torres sem saída, disse a si mesma”.

 

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