O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Refletindo sobre mulheres, história e o princípio feminino – 1

Hoje trago trechos de uma pequena palestra que fiz num encontro promovido pela empresa Scania para mulheres jornalistas que cobrem o mundo automotivo, reduto preponderantemente masculino. E ilustro o post com um desenho que fiz de Nísia Floresta, que cito na palestra.

Vou contar um pouquinho a história do feminismo, entendendo como feminismo a luta das mulheres por igualdade. E sempre falando do mundo ocidental – Europa, Américas, incluindo a Oceania. África e Ásia é outra história. As mulheres começaram a pensar/lutar pelos seus direitos na França e Inglaterra durante a época da Revolução Francesa, final do século 18. Liberdade, igualdade, fraternidade, para quem cara pálida? As mulheres também estão inclusas nisso? Muitas delas pegaram em armas para lutar, mas os direitos eram só dos homens. Duas mulheres se destacam: Olimpie de Gouges, francesa, que escreveu em 1791 a “Declaração dos direitos da Mulher e da Cidadã” e Mary Wollstonecraft, inglesa que foi à França participar da revolução e que escreveu o primeiro livro feminista – “Reivindicações dos Direitos da Mulher” em 1792. E veja que simbólico: Olimpie morreu guilhotinada em 1794 e Mary de uma infecção adquirida no parto de sua segunda filha em 1797. Aqui no Brasil tivemos nossa representante: Nísia Floresta, que em 1832 escreveu “Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens”, baseado no livro da Mary. A luta delas era basicamente para tirar dos maridos o direito divino sobre a mulher e os filhos, como a revolução tirava dos reis e permitir que toda mulher pudesse ter direito a educação e ao trabalho. No Brasil, em 1827, surge a primeira lei sobre educação das mulheres, permitindo que frequentassem as escolas elementares e em 1879 têm autorização do governo para estudar em instituições de ensino superior. Essa é considerada a primeira onda do feminismo. Isso só começou há menos de 230 anos, o que em termos de história foi ontem!

A segunda onda aconteceu no começo do século 19 e a luta era para as mulheres poderem votar e serem votada, os direitos políticos. É a história das famosas sufragistas. No Brasil esse direito foi conseguido com muita luta em 1934. Só para vocês terem uma idéia, na Suíça isso só aconteceu em 1971!!!

A terceira onda acontece nos anos 60/70, segunda metade do século 20 e aí focado na liberdade de comportamento e escolha: na concepção, no casamento e na liberdade sexual. A primeira pílula anticoncepcional surgiu em 1960, permitindo pela primeira vez com segurança que as mulheres pudessem separar sua vida sexual da procriação. Foi o início da busca da definição do que era ser mulher, não mais só baseada no papel tradicional de mãe e esposa. E começamos a entrar maciçamente nas universidades e no mercado de trabalho.
No Brasil em 1962 foi sancionado o Estatuto da Mulher casada, que garantiu entre outras coisas que a mulher não precisava mais de autorização do marido para trabalhar, receber herança e em caso de separação ela poderia requerer a guarda dos filhos: é retirada a relativa incapacidade da mulher casada. Mas só em 1988, a nova constituição estabeleceu igualdade a todos os brasileiros, perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e assegurando que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”.

Tudo isso é muito novo! Nós entramos nesse mundo que era ocupado basicamente pelos homens há muito pouco tempo! Não é incomum nós ou nossas mães serem a primeira mulher da família a fazer faculdade ou a trabalhar fora. E com que modelo entramos nesse novo mundo para nós? Logicamente com o modelo que conhecemos, o modelo masculino.

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