O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Sobre a individualidade

Nesses trechos tirados do livro O CÓDIGO DO SER, James Hillman fala sobre da força da individualidade e da possível beleza de nossa biografia.

Mais cedo ou mais tarde, alguma coisa parece nos chamar para um caminho específico. Essa “coisa” pode ser lembrada como um momento marcante na infância, quando uma urgência inexplicável, um fascínio, uma estranha reviravolta dos acontecimentos teve a força de uma anunciação: isso é o que devo fazer, isso é o que eu preciso ter. Isso é o que eu sou.

A “teoria do fruto do carvalho” sustenta que cada pessoa tem uma singularidade que pede para ser vivida e que já está presente antes de poder ser vivida.

O que poderia possivelmente perdurar através de todos os acontecimentos de uma vida longa, permanecendo constante do início ao fim? Nem nosso corpo nem nossa mente permanecem os mesmos; eles não conseguem evitar a mudança. O que parece ser verdadeiro durante todo o tempo e até o fim é um duradouro componente psicológico que marca cada pessoa como diferente de todas as outras: o seu caráter individual.

Ao aceitar a idéia de que sou o efeito de um choque sutil entre a hereditariedade e as forças da sociedade, reduzo-me a um resultado. Quanto mais minha vida for explicada pelo que já ocorreu em meus cromossomos, pelo que meus pais fizeram ou deixaram de fazer, tanto mais minha biografia será a história de uma vítima.

Apesar das feridas antigas e de todas as vicissitudes do destino, trazemos desde o início a imagem de um caráter definido e individual com alguns traços duradouros.

O propósito não costuma aparecer como um objetivo claro, mas sim como uma premência perturbadora e confusa aliada a uma sensação de importância indiscutível.

A lenda tomada de Platão, que diz que a alma escolhe seu destino particular e é protegida por um daimon desde que nasce, é um desses mitos – veneráveis, articulados e completos. E precede o outro mito que você chama de sua biografia.

O mito também leva a movimentos práticos. O mais prático de todos é encarar sua biografia segundo as idéias sugeridas nos mitos – idéias de vocação, alma, daimon, destino.

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