O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Tempos de recolhimento – IV


Existem tempos que pedem recolhimento, silêncio, espera, quietude, não ação. Tempos em que temos que entrar no útero noturno porque algo precisa ser gerado ou restaurado dentro da gente. São tempos de não-saber, onde vivemos em brumas.
Tempos em que nossa energia psíquica se volta para dentro, para o nosso mundo interno e que nos falta, consequentemente energia para lidar com as demandas do mundo externo. Claro que não podemos abandonar tudo e ir para um mosteiro mas precisamos, dentro do nosso possível, respeitar esses tempos: são tempos de transformação, de muita mudança e que normalmente transcorrem com lentidão.
Na nossa crença cega que tudo devemos planejar, controlar, ter metas e total clareza, deixamos escapar experiências vitais como são esses momentos de vazio e de não saber. Muitas vezes sabemos que estamos mudando e que temos que mudar, sabemos que algo importante e forte está acontecendo dentro de nós, mas não sabemos para onde vamos, muito menos onde iremos chegar: é como se andássemos às cegas. Parece que não temos mais mapas e o GPS recusa-se a funcionar; as referências se foram! O velho já morreu e o novo ainda não nasceu.
Estamos vivendo a fase da crisálida, como disse a junguiana Marion Woodman, onde não somos mais lagartas mas também ainda não somos borboletas. E, muitas vezes, como crisálidas temos que ficar quietas, meio imóveis esperando que o processo de transformação ocorra.
A idéia de que o futuro está sempre visível do lugar onde estamos não é realista. Algumas vezes, precisamos caminhar por um tempo “no escuro” até que possamos vislumbrar um novo horizonte. Muitas vezes é nesse útero escuro, nesses momentos vazios de qualquer clareza, que o novo e o criativo estão sendo gestados.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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