O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Invocação ancestral à Mãe Terra em mitologia do feminino

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Depois da leitura de três pequenos mitos pré históricos sobre o início da agricultura, de fazer algumas ligações com nossa vida aqui-agora e da animada troca de experiências e ideias com o grupo, nós encerramos o III Encontro de Mitologias do Feminino com um pequeno ritual dedicado à Deidade Feminina da Terra como era reverenciada pelos povos kagabas, da Colombia.

A  invocação ancestral que transcrevo abaixo tem a ver com a conexão entre o princípio feminino e a Terra – terra tanto em seu sentido de local geográfico como de elemento que produz frutos que nos alimentam. Parece que a ecologia está profundamente ligada ao princípio feminino desde os primórdios do mundo, desde muito antes que essa palavra existisse (note que não estou dizendo que “a mulher está ligada a ecologia” e sim que o principio feminino está ligado à ecologia).

Uma coisa interessante dessa evocação é que ela diz que “não há culto à Ela e nenhuma oração lhe é realmente dirigida…”, como se reverenciar a Mãe Terra fosse tão natural como respirar ou comer e não necessitasse de nenhuma liturgia ou formalidade. É simples, bela e tem a naturalidade com que tratamos nossas próprias mães, mesmo.

“A mãmother2e de todas as canções, a mãe de nossos ancestrais, deu-nos à luz no começo de todas as coisas e portanto é a mãe de todos os tipos de homens, mãe de todas as nações. Ela á a mãe do trovão, a mãe dos regatos, a mãe das arvores e de todas as coisas. Ela é a mãe do mundo e dos irmãos mais velhos, o povo-da-pedra. Ela é a mãe dos frutos da terra e a mãe da chuva. Ela é a mãe de nossos irmãos mais jovens e dos forasteiros. Ela é a mãe dos adornos e danças, de todos os nossos templos e é a única mãe que possuímos. Só Ela é a mãe do fogo e do sol e da Via Láctea. Ela deixou-nos um símbolo em todos os templos, um símbolo em forma de canções e danças.

Não há culto a Ela e nenhuma oração lhe é realmente dirigida, mas quando os campos estão semeados e os sacerdotes entoam suas palavras magicas os kagabas dizem: “e então pensamos na única mãe das coisas que crescem, a mãe de todas as coisas.” Uma oração foi registrada: “nossa mãe dos campos que crescem, nossa mãe dos regatos, tende piedade de nós. Pois a quem pertencemos? Quem são nossos ancestrais? Somente a nossa Mãe pertencemos.””

 

Colhido no livro de Mircea Eliade, O conhecimento sagrado de todas as eras, Ed. Mercuryo

2 comentários

  1. Silvia Robattom Loverbeck disse:

    Muito bom..esse tema dá um bom workshop!

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