O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O Self

Um dos conceitos centrais da teoria junguiana: o Self.

Somente através de um árduo trabalho é possível reconhecer progressivamente que por detrás do jogo cruel do destino humano se esconde algo semelhante a um propósito secreto, o qual parece corresponder a um conhecimento superior das leis da vida. É justamente o mais inesperado, as coisas mais angustiosas e caóticas que revelam um significado profundo.

De 1918 a perto de 1920, tornou-se claro para mim que a meta do desenvolvimento psíquico é o Self. A aproximação em direção a esse último não é linear, mas circular, isto é, “circum-ambulatória”. Uma evolução unívoca existe quando muito no princípio; depois, tudo não é mais que referência ao centro. Compreender isso deu-me firmeza e, progressivamente, restabeleceu-se a paz interior. Atingira, com a mandala – expressão do Self – a descoberta última a que poderia chegar. Alguém poderá ir além, eu não.

(…) propus que a personalidade global que existe realmente, mas que não pode ser captada em sua totalidade, fosse denominada Self (SI-MESMO). Por definição o Ego está subordinado ao Self e está para ele, assim como qualquer parte está para o todo. E o Ego possui o livre-arbítrio – como se afirma – mas dentro dos limites do campo da consciência. (…) Do mesmo modo que as circunstâncias exteriores acontecem e nos limitam, assim também o Self se comporta, em confronto com o Ego, como uma realidade objetiva na qual a liberdade de nossa vontade é incapaz de mudar o que quer que seja. É inclusive notório que o Ego não é somente incapaz de qualquer coisa contra o Self, como também é assimilado e modificado, eventualmente, em grande proporção, pelas parcelas inconscientes da personalidade que se acham em via de desenvolvimento.

O Self é a menor de todas as coisas que pode ser facilmente preterida e colocada de lado. De fato, ele precisa de ajuda e necessita ser percebido, protegido e como que formado pela consciência, e isto de tal modo, como se antes não existisse e só tivesse sido chamado à existência pelo cuidado e dedicação do homem. Mas, muito pelo contrário, a experiência nos mostra que ele existe há muito tempo e é mais antigo do que o ego; e é nada mais nada menos do que o secreto “spiritus rector” (espírito diretor) de nosso destino.(…)…o Self é um arquétipo que representa sempre uma situação em que o ego se acha incluído. Por isso, como acontece com todo arquétipo, o Self não pode ficar circunscrito ao âmbito da consciência do ego, mas se comporta como uma atmosfera que envolve o homem e cujos limites é difícil de ser fixado com certeza, tanto espacial quanto temporariamente.

E Aniela Jaffé resume: O arquétipo incognoscível e intemporal do Self assume uma forma específica e singular em cada um e a tarefa, a meta da individuação, está em cumprir o seu próprio destino e vocação.

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