O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A/o psicoterapeuta e o sherpa


O que é uma/um psicoterapeuta? O que elas/eles fazem? Uma metáfora muito boa para responder a essas perguntas foi feita por Maria Constança Villa-Boas Bowen no capítulo “Psicoterapia: o processo, o terapeuta, a aprendizagem” do livro “Quando fala o coração” de 1987.

Começa contando que no Nepal há uma lenda sobre um reino mágico chamado Shambala que existe nas profundezas do Himalaia. Em Shambala reina a harmonia e a paz, as pessoas são cooperativas, unidas e buscam desenvolver as virtudes, a criatividade e a sabedoria. É um reino de abundância, beleza e liberdade. Maria se pergunta se esse reino mítico é um lugar físico ou descreve uma possibilidade humana. Depois ela vai falar dos sherpas. Os sherpas são povos que vivem nas regiões mais altas do Himalaia e tem servido há anos como carregadores e guias para os montanhistas que escalam aquelas montanhas.

Maria, então faz uma analogia entre a psicoterapeuta* e o sherpa. Ela diz que existem 4 características comuns entre esses dois “guias”, sherpa e terapeuta que ajudam seus “guiados” a alcançar a meta de suas jornadas.

I. A psicoterapeuta deve saber, tal como o sherpa, que não é ela que elege o destino ou o caminho a percorrer nessa jornada, ainda que conheça vários caminhos. Como o Sherpa, sabe que a viagem que faz se dá no mundo do paciente, ainda que o dela esteja presente – com suas experiências pessoais e conhecimentos teóricos, por mais que os ponha em suspenso.
II. Assim como o sherpa a psicoterapeuta conhece bem a região. Ou seja, ela trabalhou o mundo interno dela e percorreu o caminho pessoal e teórico da experiência psicológica.
III. A psicoterapeuta, como o sherpa, divide a carga com o paciente. É muito comum o paciente sofrer de uma extrema solidão, por mais que esteja cercado de pessoas. Sua solidão é, frequentemente, fruto da sensação de não ser compreendido em sua dor. Dividir a carga desse sofrimento tem um grande significado.
IV. Finalmente, a psicoterapeuta crê em Shambala! Ou que a psicoterapia é um processo eficaz de crescimento pessoal, de ampliação da consciência e de busca de sentido e significado, assim como o sherpa crê que Shambala está lá e que cada um chegará lá somente através de seu próprio caminho.

*Nessa postagem, a partir de certo momento resolvi usar o termo psicoterapeuta somente no feminino, mas serve igualmente para os psicoterapeutas.

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