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Bari, a xamã coreana – parte 1


A península coreana, essencialmente montanhosa, foi povoada há mais de 5000 anos por tribos vindas da Sibéria, de tradição xamânica. Formaram um primeiro país em 2333 ac, ligado a legendária dinastia Dangun. Essa formação durou até 1120 ac, quando foram invadidos e conquistados pelos chineses. Esses impuseram a eles sua filosofia e religião que tinham na época da conquista – o confucionismo – que enfatizava o racionalismo e o pragmatismo. Dessa forma as tradições xamânicas do antigo povo coreano foram se perdendo e somente fragmentos de seus mitos foram compilados por eruditos confucionistas e depois por budistas, mas modificados para se adequarem as suas próprias crenças.
A tradição xamânica coreana, porém foi parcialmente preservada até hoje pelos habitantes das montanhas e dos campos arredores, no folclore, em rituais e em lendas transmitidas oralmente. A história da princesa Bari Gongju, que existe em várias versões, é uma dos mais conhecidas.

Contam que que há muitos anos atrás, havia um rei que só tinha filhas. Já tinha seis meninas e nada de ter um filho para o suceder no trono. Quando a rainha engravidou novamente ele se encheu de esperança, mas quando nasceu sua sétima filha ficou furioso. Ordenou a um servo que enrolasse a criança num manto, a colocasse numa cesta e jogasse num rio. A rainha implorou que antes disso acontecer ao menos ela pudesse lhe dar um nome, o que ele assentiu. Ela recebeu o nome de Bari Gongju, ou “princesa abandonada”.
Jogada no rio, foi protegida por tartarugas douradas e por dragões até ser salva por um casal idoso que a criou como filha.

Um dia, quando Bari tinha quinze anos, o Deus da Montanha apareceu para ela. Contou que seus verdadeiros pais, o rei e a rainha, estavam muito doentes, quase a morte e que somente a água da vida, cuja fonte ficava na Montanha Sagrada no Mundo dos Mortos, poderia salvá-los. E que as outras seis filhas, suas irmãs, haviam se recusado a fazer isso pois era uma jornada extremamente difícil e perigosa. Condoída, Bari Gongju resolveu ajudá-los. Despediu-se dos pais adotivos e se dirigiu ao palácio real. Lá chegando, contou aos pais doentes que era a sétima filha deles, a princesa abandonada e se prontificou a ir buscar a água da vida para salvá-los.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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