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Criando o próprio destino: relato de experiência pessoal

Roda da Fortuna

Patrícia Pinna relata aqui sua experiência de trazer o destino para suas próprias mãos. Mais que se recusar a ser vítima, ela criou outro destino para si mesma e para mais pessoas a sua volta. Patrícia é psicoterapeuta, arteterapeuta, professora e, tão importante quanto isso tudo, é uma pessoa  encantadora. 

“Quando resolvi fazer o mestrado, eu era casada e tinha um filhinho de 1 ano, mas meu casamento estava indo para o espaço. E, ao mesmo tempo, minha mãe estava muito doente, morrendo de uma doença incurável. Fazer esse trabalho foi o que me salvou naquele momento. Lembro que minha terapeuta dizia: “Seu casamento não depende só de você, na doença da sua mãe você não tem controle, mas seu trabalho e a sua tese só dependem de você. É aí que você pode se sustentar”. Eu tentei salvar meu casamento de todas as formas porque achava que meu filho tinha o direito de ter os pais morando juntos. Mas quando percebi que precisava mesmo me separar, meu ex-marido não quis, por diversos motivos.

Então, fui levando até a gente conseguir fazer uma separação amigável, não litigiosa, e meu filho sofrer o mínimo possível com essa separação. Tudo que eu imaginava – ter uma família, uma casa, filho e ao mesmo tempo ser uma pessoa ativa e ter um caminho meu – não se sustentou. Cheguei a ter vontade de morrer. Meu filho foi uma peça importantíssima nessa história toda, o que existia para mim era meu trabalho e ele. E pensei: a melhor coisa que posso fazer para meu filho é dar um exemplo de vida, é viver uma vida que faça sentido de ser vivida.

O mestrado foi uma oportunidade de refazer meu mundo. A tese foi meu quadro de pano. Eu trabalhava e cuidava do meu filho durante o dia e à noite, como no conto, eu “tecia”: escrevia. E foi com essa tese que compreendi melhor e sedimentei as bases do meu trabalho, no qual ancorei a minha vida. O que acontece quando a gente é levada a um ponto limite, quando está diante da morte, da separação, de coisas muito difíceis (e aquilo foi como um déjà vu de quando minha irmãzinha morreu) é que você tem de extrair um sentido maior para a vida. Se não fizer isso você não vai realmente viver. E esse trabalho é a minha missão de vida; nasci para isso, estou no mundo para isso. É o que o Jung chama de individuação. Isso ninguém me tira.

Posso trazer meu fado, esse destino, para minha mão e transformá-lo em meu e em uma coisa a meu favor, e para o bem de todos. Foi o que fiz na época do meu mestrado: me recusei a ser vítima. Assim você transforma seus problemas na sua força, e aí você se empodera. E de um poder que não é egoico, é o poder conferido por essa entrega à vida, o poder maior do qual você é canalizador e representante. É você ser rei e rainha do seu reino e transformar a sua história no seu mito pessoal. E, quanto mais maestria você tiver em viver sua história, mais vai poder iluminar e inspirar as histórias das outras pessoas”.

Trecho do livro Círculo de Mulheres – as novas irmandades, de Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro, link no menu

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