O feminismo de Camile Paglia: relações ambivalentes entre mulheres e homens
Reproduzo aqui trecho de entrevista de Camile Paglia, uma das mais polêmicas teóricas do neo feminismo.
Concordo com ela que a uniformização entre homens e mulheres não tem respaldo na biologia, isto é, na natureza mesma (inclusive psicológica, segundo Jung), mas é importante ter critério de até onde ir com isso em termos sócio-culturais, entre outros. Concordo com algumas e discordo de discordo outras afirmações dela, mas sem duvida merecem ser ouvidas.
Camile participa do Projeto Fronteiras do Pensamento e a entrevista toda, dada a Fernanda Mena para a Folha, está no caderno folhafronteiras de 24/04/15 e no site.
“Toda pessoa emerge do útero, e a segunda onda do feminismo cometeu um tremendo erro ao desvalorizar a esposa e mãe. A imagem mitológica da mãe é poderosa para os homens no nível psicológico. Todo menino precisa se libertar de sua mãe. E todo homem que penetra uma mulher retorna ao útero. Por isso, há sempre uma ambivalência na relação homem-mulher.
Ele deseja a mulher, e quer se livrar dela ao mesmo tempo. Muitos comportamentos machistas, sempre arrogantes e estúpidos, são uma maneira torta de o homem dizer que não está sob o poder da mulher, que não é seu bebê. O feminismo racionalizou esses e outros mecanismos que são consequência direta da biologia. (…)
Não dá para acreditar nessa estupidez toda que deriva das ideias do (filósofo) Michel Foucault que nega a existência dos gêneros, que seriam algo socialmente construído…”
Post de Bia Del Picchia
lembro do livro "A mão esquerda da escuridão", em que Ursula Le Guin pensa como seria uma sociedade em que o gênero não definiria papéis sociais.
A gente não pode esquecer que tem corpo e que ele define algumas diferenças. Mas na selva – e selvageria – do sistema patriarcal em que vivemos há tantas centenas de anos fica complicado saber onde acaba o psico-biologico e começa o socio-cultural.
Oi Bia, eu também li a entrevista dela e A-do-rei! Ela não economiza no verbo, não é?
Até selecionei para ler com as terapeutas do Grupo de Estudos, pois estamos exatamente discutindo os temas que ela aborda entrevista.
Gostei do que você disse no comentário, as pessoas estão tão imersas no mental que realmente se esquecem de que têm corpo!
Estar em sintonia com o feminino sagrado é estar em contato com o corpo, os instintos, os sentimentos e a intuição.
Bom feriado!
Bjs
Cristiane, estamos sempre em harmonia… Pois é, ela vai ao ponto, e esse ponto é do corpo-matéria, arquetipicamente ligado ao feminino!
beijão
Eu não gosto de Camile Paglia, não gostei da sinopse do livro dela, tudo o que eu leio de artigos seus é um retrocesso, (mesmo o que vocês publicaram dela aí) vocês já leram a crítica que ela se achou na altura de fazer a NAOMI WOLF? Sempre foi um pecado abominável , uma aberração da natureza, um disparate , a mulher deixar de se anular e se desenvolver como um sujeito .Só que a maioria não tem consciência do tamanho dessa lavagem cerebral que somos submetidas quando crianças (na verdade com um peso de séculos de gerações) ,e Camile Paglia me parece só uma dessas na grande massa de mulheres que são "resistentes" espiritualmente em serem assertivas,livres, não "fundidas" em homem etc E que ao serem resistentes estão atrapalhando e não ajudando, pois é assim que as coisas como estão se mantém. Ela vem falar de "ser mãe" como se soubéssemos mesmo o que é "ser mãe" . Eu só vejo "mães" tratando crianças como se elas fossem idiotas e dando mais atenção do que eles mesmos precisam (ou querem). E se é pra falar de homens, sinceramente, só vejo os homens entediados, querendo desesperadamente sentir um pouco de emoção com as mulheres , sem conseguirem. Tem livros que ensinam até a mulher a ser mais submissa (procure qualquer livro católico, evangélico, que fala de mulher ) porque Camile Paglia tem que ser boa ?
Ana, você está certíssima em apontar para a lavagem cerebral que nós sofremos há tantos séculos. Ela é tão dominante na cultura e na psique – tanto masculina quanto feminina – que é dificil até a gente perceber que ela existe, quanto mais se livrar dela! E sim, a defesa da submissão feminina parece que está tendo um retorno (e apelo quase erótico, em alguns casos) que muito me espanta, que sou da geração da queima de soutiens. Como eu disse na introdução desse post, concordo com algumas afirmações da Camile (que aliás é super
assertiva) e discordo de outras. Coloquei aqui uma que concordo, que trata da questão do corpo. É importante discutir essas coisas.