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Quando os oráculos eram instituições oficiais

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Sabia que na antiga Grécia e em Roma os líderes políticos tinham que consultar os oráculos antes de tomarem uma decisão importante? É o que é explicado no texto abaixo pelo respeitado acadêmico Robert Flacelière.

“Nos tempos antigos, a adivinhação era uma instituição oficial. Em todo o lado, no Egito, na Mesopotâmia, mesmo em Israel e, mais tarde, em Roma, os chefes de Estado e os líderes dos exércitos tiveram de consultar o oráculo e assumir os “auspícios” antes de iniciar qualquer empreendimento, sob pena de serem acusados ​​de leviandade e, em caso de fracasso, expor-se à censura de não ter buscado a opinião dos deuses.

Cícero escreve no início do seu tratado Sobre Adivinhação: “Constitui uma crença antiga, que remonta a tempos heroicos e confirmada pelo sentimento unânime do povo romano e de todas as nações, de que existe entre os homens uma certa faculdade de adivinhação. Os gregos chamavam-lhe mantike, isto é, pressentimento, a ciência das coisas futuras, uma ciência sublime e proveitosa, pela qual a natureza humana atinge a sua máxima proximidade com o poder divino.

Cícero, no mesmo tratado Sobre Adivinhação que já citamos, distingue dois tipos de profecias: uma, a que se deve à arte; o outro, à natureza. Na verdade, Cícero inspira-se aqui na distinção platônica entre adivinhação indutiva ou artificial (éntekhnos, techniké) e adivinhação intuitiva ou natural (átekhnos, adidaktos).

A primeira baseia-se na observação dos fenômenos percebidos pela cartomante e, diz Platão, “a investigação do futuro através de pássaros e outros signos” é uma atividade saudável e racional no seu método, embora seja evidentemente baseada em suposições irracionais.

A segunda, ao contrário, consiste numa espécie de loucura (mania em grego, furor em latim) ou êxtase, em posição divina e é a dos profetas e profetisas – Sibilas, Pítias, Báquides – que são diretamente considerados inspirados por divindade sem a mediação de qualquer sinal sensível.

Esta última é, portanto, uma atividade totalmente sobrenatural, tanto nos seus princípios como na sua maneira e nos seus efeitos”.

Fonte: Adivinhos e Oráculos gregos, Robert Flaceliére, Ed Universitária de Buenos Aires. tradução livre

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