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Sorte e destino

                         Sorte 

” A própria sorte é que faz cada um feliz”, é o lema desse painel de azulejos do sec XVII. Embaixo dele, a imagem mostra um casal comparando a sua sorte com a do rapaz que recebe mais vinho do que eles. Como acontece hoje em escala gigante nas redes sociais onde se vê as taças alheias cheias de vinho, de alegria, de prazer, enfim de maravilhas e a gente compara com as nossas bem mais modestas.

Então, ser feliz com a própria sorte é um lema é sábio ou conformista? Induz a gente a se auto afirmar com originalidade ou apenas a aceitar passivamente o destino que se tem? O que você acha?

Pondo mais lenha nessa fogueira: o filósofo grego Heráclito disse que “o caráter de um homem é seu destino ou gênio” (daimon no conceito original). O Bhagavad Gita diz que é melhor cumprir o próprio dharma (algo como destino+ dever) ainda que seja difícil do que cumprir o de outra pessoa.

E Jung disse que os conteúdos do inconsciente remetem ao passado mas também antecipam o futuro e que “um conhecimento completo do traçado de fundo existente desde o início em um indivíduo poderia ser em grande parte a condição de possibilidade de predição de seu destino” (CW9/1 par 498). Ou seja, já trazemos em nós um esboço geral da nossa vida conforme o que somos no mais profundo. Lá está a base do nosso destino ou sorte, daquilo que os gregos diziam que as Moiras nos legaram.

Para mim, esse painel fala em latim o que Mafalda simplificou em castelhano séculos depois: “justo a mim cabe ser eu” – e eu sou eu e minhas circunstâncias.

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