O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Suas crenças te expandem ou te limitam? – Parte 1


Apesar de a maioria das pessoas achar que vive na “realidade”, essa coisa absoluta que chamamos de realidade não existe. O que percebemos como real é permeado por nossas crenças. Vivemos imersos em um mundo simbólico e não ter consciência disso é viver de forma ilusória.
Não existe percepção pura, pois nossa visão dos fatos do mundo externo tem de passar pela nossa mente ou psique. Percepção é sempre, em alguma medida, interpretação. O que pensamos existir existe de fato para nós e tecemos a nossa “realidade continuamente com nosso pensamento”. A forma como acreditamos que a vida é determina como a enxergamos e como a vivemos: o mundo interno e o mundo externo são expressões de uma mesma realidade. Nossas crenças são os “óculos” com os quais enxergamos a vida. E, quanto menos consciência tivermos disso e quanto mais acreditarmos que nossa visão é A verdade, mais cegos vivemos, mais inconscientes somos em relação à maneira como nossas crenças também estão criando aquilo que enxergamos como real. E, lógico, os “óculos” mais comuns são dados pela cultura predominante à nossa volta, e a cultura dominante em que estamos imersas “prega algumas verdades” que são assustadoras. É uma cultura infantilizada, individualista e imediatista, que estimula as ilusões.

Ainda hoje muitas de nós, mulheres, por mais modernas que sejamos, achamos no fundo que só podemos ser felizes se vivermos um conto de fadas romântico no qual o amor de um homem, visto como um príncipe encantado, vai nos salvar das dificuldades, agruras, solidão e sofrimentos da vida, e de nossas responsabilidades como adultas. É a fórmula batida, absolutamente falsa, mas que jaz embutida ainda que de forma inconsciente na cabeça de tantas mulheres: “Casaram e foram felizes para sempre!”
E se a mulher se casa e vê que nada é como “lhe prometeram”, muitas vezes, em vez de ver que sua visão de uma relação humana real está totalmente equivocada, acaba achando que se casou com o príncipe errado. Apesar de estarmos no século 21 é impressionante como ainda hoje inúmeros produtos culturais estimulam e perpetuam essa ilusão!

E a mulher que acha que ainda não achou o homem “ideal” sente-se culpada e vê sua autoestima despencar, pois acredita que isso é fruto de estar gorda demais ou magra nos lugares errados, ou que seus seios são muito pequenos ou muito grandes, que suas pernas não são musculosas o suficiente, ou que tem muita barriga, que sua pele está feia, que seu nariz não tem o tamanho ideal, que está velha demais, o cabelo não é mais sedoso, a cintura não é mais tão fina, e assim por diante. É a crença de que o amor ocorre num mercado em que a beleza, a juventude e a perfeição relacionadas aos modelos vigentes são a moeda de troca feminina. Para os homens não é muito melhor: sucesso profissional, dinheiro, virilidade e a capacidade de ser macho alfa são alguns dos atributos que eles precisam ter. Parece que estamos buscando pares que “agreguem valor à nossa marca”, e não que tragam valor à nossa vida!
Estamos nos coisificando, e com isso as relações possíveis entre humanos reais se perdem. Se a cultura estimula a busca de nada mais nada menos do que a perfeição plastificada, não dá para se relacionar com gente, esses seres tão imperfeitos. Além do mais, as relações humanas também são imperfeitas, geram conflitos, mal-entendidos, nos fazem sofrer, nos questionar, mudar, crescer, amadurecer – então é melhor ter “relações” idealizadas, de imagens, não relações de fato. Tudo isso nos afasta do amor e do afeto possíveis e absolutamente imperfeitos, ambíguos e confusos que duas criaturas humanas são capazes de sentir uma pela outra. Perdemos o possível, que pode ser experenciado com todas as suas imperfeições, mas também com toda emoção e todo sentimento, para um ideal impossível de ser atingindo e que só nos traz frustrações.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS (volume 1)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.