O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A deusa e o prazer de viver


Asase Yaa, a deusa africana dos Ashanti (Gana), a Grande Mãe Terra, cultuada com música, dança, lindos tecidos multicoloridos e na natureza é um Símbolo Feminino Sagrado potente para nos lembrar da alegria que podemos sentir pelo simples fato de estarmos vivas e habitando esse lindo planeta. E de como é bom celebrar essa sensação!

Infelizmente, esses são os tipos de atitude completamente contrários ao que prega nossa cultura dominante. Para uma cultura que tem como modelo de sucesso a conquista de bens materiais e de símbolos de status considerados relevantes, o nível da hierarquia profissional atingida, o padrão de consumo alcançado, a visibilidade e importância dentro dos grupos que “importam de verdade” e o cumprimento de padrões vistos como os corretos no exercício de qualquer papel social, achar prazer em simplesmente viver é quase uma heresia (e uma impossibilidade). Chega a parecer inconsequência…

Vivemos dentro de uma visão de mundo que preconiza como universalmente desejáveis os seguintes comportamentos: a procura constante da eficiência e eficácia em tudo o que for vivido e feito, a perseguição a metas cada vez mais desafiadoras nunca estando satisfeitos com o já obtido, a realização de forma bem planejada sempre, para evitar qualquer possibilidade de falha ou erro e a busca incessante da aprovação do meio social, expressa através do patamar de remuneração, prestígio e poder atingidos.

Essas exigências não distinguem gênero: são para as mulheres e para os homens. Mas para as mulheres a auto exigência e a expectativa social da perfeição abrange ainda mais áreas. Além da profissão, temos que ser perfeitas como mães, como donas de casa, como as responsáveis pela harmonia e bem estar da família (assim se acredita!!) e como mulheres que preservam sua beleza, forma física e a máxima aparência de juventude possível. Nada menos que isso é tolerado!

Quando se busca a perfeição existe a crença subentendida que há padrões únicos, bem específicos e universalmente corretos para o exercício de qualquer papel social e de tudo na vida. E são padrões idealizados, que não admitem desvios, verdadeiras camisas-de-força mentais que tiram a espontaneidade e a criatividade da pessoa em suas ações. A busca incessante desses padrões rigidamente pré formatados traz como consequências um alto nível de tensão, a sensação de frustração, a exaustão física e emocional e a baixa estima pelo constante fracasso. Nenhum ser humano consegue ser perfeito, graças a Deusa!

A busca dessa perfeição na vida, em nós e nos outros é a pior traição à alegria e ao prazer de viver: não há espaço para apenas ser, não há espaço para o que é espontâneo, para o improviso criativo, para a leveza, para o júbilo, para a celebração. Combater o vício da perfeição é combater a mecanização e a esterilização da vida.

O que nos cabe é trabalhar em nosso aprimoramento e amadurecimento, buscando melhorar sempre como pessoa, mas com a aceitação humilde e de preferência bem humorada, de nossa humanidade sempre imperfeita. E seguir nosso caminho honrando nossa singularidade e não buscando um modelo idealizado, perfeito, genérico e irreal. E protocolar e robótico!
Oremos para, enquanto estivermos habitando esse planeta, saibamos dançar e cantar muito, saibamos ver e reconhecer todas as cores do mundo e que possamos com verdade, alegria e emoção agradecer a Asase Yaa por nossa linda morada.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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