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A deusa Freya e a liberdade sexual feminina


Freya é uma deusa complexa, com múltiplos aspectos, o que permite inúmeras interpretações simbólicas. Como é preciso optar por uma de suas várias facetas dentro do escopo da nossa proposta, o foco escolhido é o dela como deusa do amor erótico e a questão da sexualidade feminina.
O sexo além de um fato absolutamente natural e instintivo, é uma importante faceta da nossa auto expressão, da busca de prazer na vida, da comunicação e troca entre seres humanos, além de ser a forma da vida de reproduzir. No entanto, acabou sendo cercado de tantos tabus, preconceitos, crenças falsas, interdições e regras implícitas e explícitas que a sexualidade virou uma questão normalmente bastante problemática, especialmente para nós mulheres. Aliás, foi ao se apropriar, literal e simbolicamente, dos corpos e da sexualidade feminina que a cultura patriarcal se estabeleceu.

Com a liberação sexual a partir da segunda metade do século XX – e isso, vale dizer, para algumas e não de forma generalizada – pareceu que muitas dessas questões sobre a sexualidade das mulheres seriam finalmente resolvidas. Mas não foi bem isso que aconteceu. Existe para cada mulher diversas complicações no caminho da conquista da verdadeira liberdade sexual, muito especialmente dentro dela mesma. Existem várias armadilhas nessa jornada.

Uma das práticas atuais que parece libertária, por exemplo, talvez não passe de outra “burca” que acabamos vestindo. Estou falando da questão de ver o sexo de uma forma bem banal, os/as parceiras como descartáveis e sempre quanto mais quantidade e descompromisso, quanto menos encontro verdadeiro, melhor! Sexo casual pode ser muito bom, mas buscar unicamente esse tipo de relacionamento sexual e de forma voraz, será que é verdadeiramente satisfatório? Será que é essa a verdadeira liberdade sexual? Não se no fim o que restar é um enorme vazio e a sensação de solidão.

Fazer sexo com alguém é bom por já sabermos que é bom, pela curiosidade de descobrir se será bom, pelo amor que sentimos pela pessoa, pela vontade da troca de carinho, pelo calor da intimidade, por pura e simplesmente sentir tesão, pela desejo do toque de outro ser humano ou tudo junto ao mesmo tempo. Mas, sempre como escolha livre nossa, baseado em nosso desejo real, sejamos casadas, solteiras, cis, trans, hetero, homo ou bi afetivas/sexuais.

E nunca, nunca mesmo, porque “já que eu provoquei”, porque “não me custa nada”, porque “já que estou aqui”, porque é “o que ele espera de mim” ou “por que dessa forma ele vai me apreciar” ou porque “faz parte do pacto do casamento”. É tão nefasto quanto “mulheres direitas não fazem isso”, isso é só “para as que não se valorizam”, “se você fizer isso antes de se casar nunca irá se casar”. Todas essas expressões são um absoluto horror; são todas aprisionadoras.

Sexo bom é aquele que envolve troca, encontro, intimidade, prazer, tesão, auto descoberta e descoberta do outro, alegria de viver. Nunca deve ser usado como moeda de troca, obrigação, vontade de agradar, chantagem, poder, busca de auto estima, entorpecimento ou consumo. Ou como interdição, pecado ou coisa que só as “erradas” ou as “perdidas” fazem.
Ter uma boa vida sexual – e boa segundo uma visão absolutamente individual, podendo inclusive ser não ter vida sexual alguma – é um total direito, mas também uma responsabilidade pessoal de cada uma de nós.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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