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A história de Lilith – parte 2


Em determinado momento, não conhecido com precisão, ocorreu a maior mudança nos mitos sobre quem era Lilith e qual sua origem. No manuscrito hebreu “O alfabeto de Ben Sirak” escrito entre os séculos VIII e X ac ela já é descrita como a primeira esposa de Adão. Mas esse mito do Gênese é contado com mais detalhes no “Zohar, o Livro do Esplendor”, uma obra cabalística do século XIII dc, que é uma meditação sobre o Antigo Testamento**.

Conta o livro que Deus criou o primeiro homem e a primeira mulher a partir do pó da terra: eles eram Adão e Lilith. Mas Adão só aceitava fazer amor com Lilith com ele por cima dela. Ela, que se achava igual a ele – afinal ambos foram feitos por Deus ao mesmo tempo e da mesma matéria – queria alternar a posição de quem ficava por cima durante a relação sexual. Adão se negou com firmeza a fazer isso: para ele, era ela quem sempre deveria suportar, de forma passiva, o peso dele em cima de seu corpo durante o ato sexual. Depois de inúmeras tentativas de convencer Adão que ela também tinha esse direito e sem nenhum sucesso, Lilith não suportou mais tal submissão. Amaldiçoou Adão e usando seus poderes mágicos voou para o Mar Vermelho, estabelecendo suas margens como sua nova morada.
Adão sentiu-se só e muito triste com sua partida. Deus, querendo vê-lo novamente feliz, enviou três anjos para convencer Lilith a retornar e se render as ordens do marido, mas ela se recusou veementemente a ceder e não voltou atrás em sua decisão de abandonar Adão.

A partir do momento em que não obedeceu a essa ordem divina, Lilith passou a copular compulsivamente com os animais e com vários demônios, dando à luz a inúmeros filhos e filhas diabólicos, numa sequência de selvageria sexual sem medida e freios.
Dizia-se que era muito arriscado para os homens dormirem, porque Lilith e suas filhas, chamadas Lilims, podiam se aproveitar deles, copulando e sugando toda sua vitalidade, como o succubus associado anteriormente a ela, Ardat Lili. E sua fama de assassina de crianças se expandiu e se difundiu tanto, que muitos povos semitas, especialmente os hebreus, criaram inúmeros rituais, preceitos e talismãs para proteger os recém nascidos de Lilith, costumes que duraram até a Idade Média.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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