O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

A história de Lilith – parte final


Finalmente o relato mítico havia transformado Lilith em um pervertido e perigoso demônio feminino, como consequência de sua desobediência a Deus Pai e aos desejos do homem e a afirmação de seu direito à autonomia, liberdade de escolha e igualdade!
Voltando a essa história do Gênese, Adão que se sentia muito solitário depois da partida de Lilith, pediu uma nova companheira a Deus. Então Deus, usando uma costela de Adão criou Eva, uma mulher muito mais dócil e submissa; afinal formada a partir dele, o homem e portanto uma não igual!
Mas Lilith não sossegou: disfarçada de serpente convenceu Eva, que convenceu Adão a comer o fruto proibido da árvore do conhecimento, desobedecendo a Deus e fazendo com que ambos fossem exilados do Jardim do Éden.

No relato cristão a humanidade ser expulsa do Paraíso foi culpa de uma mulher, Eva; nesse relato hebraico de duas: Eva e Lilith. E se Eva é a primeira “pecadora”, Lilith é a próprio diaba!

Ao ler sobre as transformações míticas de Lilith, sua interpretação simbólica quase se faz desnecessária de tão óbvia. De deusa suméria ligada a sexualidade sagrada, protetora das mães e de seus bebês, Lilith virou um espírito feminino noturno maligno, depois um succubus e uma assassina de crianças e finalmente, somado a isso, uma mulher desobediente a Deus e ao homem e como consequência, pervertida, diabólica e a principal responsável pelos sofrimentos da humanidade exilada do Paraíso.

Vemos nessa história, de forma inequívoca, a crescente demonização da figura da mulher ocorrida nas religiões monoteístas masculinas patriarcais. E demonização fortemente agravada para aquelas mulheres que não “conhecem seu lugar e se rebelam, tendo a ousadia de querer se igualar aos homens”!

Essa transformação da imagem mítica de Lilith mostra a resposta dada, até do ponto de vista simbólico, truculenta e violenta às mulheres que lutavam por sua igualdade diante dos homens e que não aceitavam ser cerceadas em seus direitos pelas religiões e cultura patriarcais. Eram demônios e como demônios deveriam ser tratadas. E a história mostra com clareza o quanto isso foi feito…

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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