A menina e a Velha Sábia
Raquel Naveira |
Não conhecia a poeta Raquel Naveira, mas me encantei com essa sua poesia que conheci através de uma postagem no facebook de uma amiga plena de sensibilidade: Patrícia Widmer.
Nessa casa encantada da Raquel vivem juntas, a menina cheia de curiosidade, silêncios e vulnerabilidade e a Velha, muito velha cheia de vida, silêncios e sabedoria.
CASA PARA UMA MULHER ARQUIVELHA
Quando criança
Sentia-me ao mesmo tempo
Uma menina solitária,
Franzina
E uma velha muito sábia,
Muito digna,
Que conhecia coisas humanas e divinas.
Nessa casa,
Cheia de quartos e quinas,
Viverá esta velha,
Arquivelha que sou eu.
Será uma casa silenciosa
Onde realizarei trabalhos simples
Como acender lampiões
No fim da tarde.
Será uma casa
Quase casulo
Onde aceitarei as condições da existência,
Tecerei fios de seda
Em direção ao infinito.
Será uma casa resistente
Capaz de suportar blocos gigantes
Que desabem
Em avalanche
Sobre o teto.
Nessa casa
Serei cada vez mais antiga,
Prudente,
Erudita,
Fiel ao espírito que me agita
E ao qual cedi a palavra.
Nessa casa
Nada perturbará a alma de meus ancestrais,
A atmosfera de prece:
Vida que se cumpre
E desaparece.
In: “Casa e Castelo”. São Paulo: Escrituras, 2002. p.51,52.
Adorei Cristina!
Eu tinha essa sensação quando era criança….de que era uma criança e ao mesmo tempo uma velha…nossa, arrepiei!
Também não conhecia a Raquel, obrigada por compartilhar.
Bjs
Tão bom achar mulheres que falam do que acontece dentro da gente e ainda por cima com poesia, não é, Cristiane?
Bjs
Linda, linda… A velha sábia se começa menina.