Finados: por que temos tanto medo da morte?
E uma consequência de “viver sem isso” é que “o medo da morte parece ter se constelado de modo particularmente elevado na época atual” (Aniela Jaffé). Ou seja, como não temos a religiosidade e espiritualidade de antes, a morte parece apenas algo físico, horrível e sem sentido.
Ao identificar-se apenas com o ego, ao equiparar e limitar a existência apenas à matéria, o inconsciente é ignorado, assim como qualquer elemento, metafísico ou não, que faça frente ao eu.
Já “o homem religioso, no entanto, está acostumado com a ideia de não ser o único senhor em sua casa. Ele crê que quem decide em primeiro lugar é Deus e não ele” (JUNG).
Esta atitude é psicologicamente mais saudável, já que, sendo a vida um processo que inevitavelmente termina na morte, “voltar-se contra ela é algo de anormal e doentio que priva a segunda metade da vida de seu objetivo e seu sentido” (JUNG).
Além disso, a morte também é uma representação da limitação – e o limite, a renúncia e o desapego são o oposto dos valores materialistas, consumistas e competitivos. “Nossa educação aquisitiva e possessiva mobiliza nossas defesas contra qualquer tipo de perda. (…) Essa mentalidade aquisitiva está profundamente enraizada em toda a nossa atividade.” (KELEMAN).
Então, até as pequenas mortes que acontecem ao longo da vida – as inúmeras perdas, abandonos e forçadas abdicações do controle – são consideradas derrotas assustadoras e de difícil elaboração.
Assim, ainda segundo Jung, é preciso posicionar-se sobre o mistério do além: “o homem deve provar que fez o possível para formar uma concepção ou uma imagem da vida após a morte (…). Quem não o fez, sofreu uma perda”. Ou seja, todos precisamos ter uma concepção pessoal sobre o sentido da morte – o que traz, por consequência, o sentido da vida.”
Lindo post, Bia!
Assim como na era vitoriana o sexo era o grande tabu. Na nossa era do gozo eterno e felicidade instantânea, a morte é o tema tabu.
A vida é uma preparação para a morte, só morre bem quem viveu bem e teve sua finitude como conselheira.
Bom feriado!
Bjs
E precisamos afrontar tabus, sejam eles quais forem, não é, Cristiane?
bjs!
Bia, acompanho o blog há muito tempo… Acabei de passar por uma perda gestacional (relato minha experiência no blog http://estrelinhahelena.blogspot.com.br), antecedida pela perda também do meu irmão caçula aos 29 anos (em 2013) e da minha sogra aos 57 anos (em 2014). O luto tem feito parte da minha vida… Seu post trouxe muita luz porque desenvolvi também um quadro de pânico (que é o medo da morte). Estou em terapia e utilizo apenas medicamento homeopático. Suas palavras trouxeram compreensão há minha necessidade de controle e dificuldade em aceitar a finitude da vida. Gratidão por ter sido tão inspirada! Gratidão por estar em meu caminho, assim como a querida Cristiane Marino 😉 Beijos e abraço afetuoso
Carol, obrigada pelas boas palavras e por compartilhar sua experiencia e respostas ao lado sombrio da vida. Ao ler, lembrei que Zweig disse que " buscar a verdade significa experimentar a dor e a escuridão, bem como o luminoso lado branco da luz.”
De uma buscadora a outra, mando grande beijo e desejo muita luz para você
Gratidão pelo carinho, Bia! Um beijo e abraço afetuoso