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Heroínas do Brasil – Dulcina de Moraes

Dulcina de Moraes (1908 / 1996) atriz, diretora, produtora e professora de teatro
Dulcina
Intérprete de marcado estilo próprio, sobretudo no gesto e no rosto, Dulcina atravessou cinco décadas de montagens sucessivas, três delas à frente de sua companhia, tornando-se um “monstro sagrado” do teatro brasileiro.
Quando nasceu, Dulcina não deixou dúvidas de que seu destino era mesmo ser atriz. Em 1908, seus pais, dois grandes atores da época, excursionavam com uma companhia pelo interior do Rio de Janeiro, quando chegaram à cidade de Valença. Átila e Conchita de Moraes – ela grávida prestes a dar à luz – iam apresentar uma peça naquela mesma noite. No hotel onde o elenco se hospedaria, o proprietário, ao perceber que alguém iria nascer a qualquer momento, proibiu que o casal ali permanecesse. O incidente chegou aos ouvidos da Condessa de Valença que, imediatamente, liberou um casarão desabitado para receber os artistas. Providenciou-se um colchão, toda a população solidarizou-se trazendo mantimentos e, com ampla audiência e aplausos de todos, no dia 4 de fevereiro, vinha ao mundo Dulcina de Moraes. O seu nome é uma homenagem a sua avó materna Dulcina de Los Rios Vallina, que também era atriz. Com apenas um mês de vida, Dulcina já estava em cena, no lugar de uma boneca que ocupava o berço utilizado na peça.

A carreira de atriz começou na década de 20, quando assinou seu primeiro contrato, com a Companhia Brasileira de Comédia, de Viriato Corrêa. Aos 17 anos, entrou para a empresa teatral de Leopoldo Fróes, a mais importante do início do século. Já no começo de carreira, seu desempenho chama a atenção do público e da imprensa, que o define como uma vocação inata. Em julho de 1930, casou-se com o ator e escritor Odilon Azevedo. Em 1935, ao lado do marido Odilon Azevedo funda a Cia. Dulcina-Odilon, responsável por êxitos memoráveis nos palcos nacionais. A Cia. foi a primeira a apresentar ao público brasileiro autores como García Lorca , D’Annunzio, Bernard Shaw e Jean Giraudoux . Os autores nacionais também tiveram sua vez no repertório de Dulcina, como Viriato Correia , Raimundo Magalhães Júnior e Maria Jacintha , entre muitos outros.

Recebeu a medalha do mérito da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, ABCT, como melhor atriz do ano pelo conjunto de trabalhos em 1939. Em 1949, ganhou novamente o Prêmio ABCT, mas agora como melhor direção por Mulheres, de Claire Boothe. E em 1982 recebeu o Prêmio Molière Especial.

Em 1945  teve a maior consagração de sua carreira: o espetáculo Chuva, adaptação de uma novela de Somerset Maugham, estreava no Theatro Municipal, dirigida e protagonizada por ela. Foi encenada por anos seguidos em todo o país, na América Latina e em Portugal, deixando uma legião de admiradores.

Em 1955, Dulcina inaugurou a Fundação Brasileira de Teatro, uma das primeiras escolas de formação em teatro no país. Dedicou-se a partir de então integralmente a este sonho, primeiro no prédio onde hoje está o teatro que leva seu nome, no centro do Rio de Janeiro, e mais tarde, em 1972, em Brasília, formando centenas de atores. No ano de 1966 morre o marido, colega e grande companheiro Odilon Azevedo. Em 1972 transfere a FBT para Brasília e muda-se para a cidade. No dia 21 de abril de 1980, inaugura o Teatro Dulcina em Brasília.

Além de seu trabalho criativo como intérprete, a atriz foi pioneira na luta pelos direitos sociais dos atores e técnicos teatrais. Antes de Dulcina, os profissionais de teatro trabalhavam de segunda a segunda, havendo dias (quintas, sábados, domingos e feriados) em que chegavam a fazer três sessões diárias. Foi ela também quem aboliu o “ponto” no teatro brasileiro.
Dulcina faleceu em 28 de agosto de 1996, em Brasília.

Próxima quarta-feira, dia 27/07: ROSE-MARIE MURARO

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