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Indicação de livros: Baratas e Um belo diploma


“Baratas” e “Um belo diploma” foram escritos por Scholastique Mukasonga de Ruanda que vive hoje na França. Dela já indiquei o livro “Nossa Senhora do Nilo”. Já havia dito lá atrás que nessa viagem literária por terras e mulheres africanas  iria procurar ler sempre livros de escritoras diferentes e de países diferentes para diversificar ao máximo meu campo de leitura. Mudei de idéia: aquelas escritoras que mais amei como Tsitsi Dangarembga, Buchi Emecheta, e outras vou ler o que tiver em português. Esse é o caso de Scholastique. Nossa Senhora do Nilo, o outro livro indicado, apesar de se basear na experiência da autora como aluna de um colégio parecido com o das protagonistas é ficção. Baratas e Um belo diploma não, são livros autobiográficos; contam a realidade de viver uma vida terrível num regime claramente genocida. Sua linguagem é crua, direta e extremamente bela e pungente. Baratas não é um livro fácil de ler, mas acho superimportante tomarmos consciência dessa barbárie que começou com violências das mais diversas e terminou em pouco mais de 3 meses em matar quase um milhão de pessoas da étnica tutsi em 1994 em Ruanda. Eu ignorava completamente essa história macabra, certamente por ter acontecido na África. Scholastique, com seus livros traduzidos em muitas línguas, faz com que a história dessas pessoas não seja esquecida. A autora perdeu 37 pessoas assassinadas da sua família: pai, mãe,  os irmão e irmãs, cunhados, cunhadas, sobrinhos e sobrinhas. Só ela e um irmão se salvaram porque fugiram para o Burundi, país vizinho, para continuarem estudando a mando do pai. Um belo diploma conta essa história: apesar de ser mais leve não deixa de lidar com a dor do exílio, da perda, da barbárie. É tudo muito triste, mas gostei demais dos livros e de tê-los lido, por isso os indico. Editora Nós

Segue a sinopse de “Baratas”: Como indivíduos normais transformam-se do dia para a noite em assassinos? Como pais de família, colegas de escola, amigos de infância decidem subitamente agarrar seus facões, seus martelos, suas enxadas e suas lanças e massacrar, num espaço de três meses, mais de 800.000 crianças, mulheres e homens tutsis? Em abril de 1994, Scholastique Mukasonga, já casada e mãe de dois filhos, residia na França. No entanto, ela era uma sobrevivente do genocídio ruandês. Baratas compõe o ciclo testemunhal de sua obra, junto com os romances A mulher de pés descalços e Nossa Senhora do Nilo, ambos publicados pela Editora Nós em 2017. Neste relato autobiográfico em que se associam memória coletiva e individual, Scholastique Mukasonga descreve, de maneira pungente e sem concessões, a emergência, a implementação e as consequências catastróficas da máquina genocida. Verdadeira arqueologia do terror, Baratas evoca o longo e doloroso processo de aniquilamento do indivíduo: as pequenas humilhações cotidianas, o medo e a política segregacionista de erradicação de uma população submetida à condição de animal a ser destruído. Em suma, a longa agonia dos tutsis em Ruanda sob o olhar indiferente da comunidade internacional. Entre o desejo de preservar os vestígios de um passado em ruínas e a promessa implícita de conservar a história familiar, Baratas se quer escrita de memória e denúncia da engrenagem de uma barbárie formidável e tristemente moderna.

Segue a sinopse de “Um belo diploma”: Como salvar uma filha de uma morte certa? Talvez, como crê o pai de Scholastique Mukasonga, confiando-a à escola, a fim de que ela obtenha um “belo diploma”. Assim, ela não será mais nem tutsi nem hutu. Ela atingirá o status inviolável de “evoluída”. É justamente para obter um diploma, que a menina será obrigada a tomar o caminho do exílio. Ela passará de país em país, do Burundi à Djibouti, até chegar à França. Ao longo da travessia, às vezes, as chances prometidas por este papel parecem uma certeza. Noutras, desaparecem como uma miragem. Mas ao fim, como lhe havia dito seu pai, este “belo diploma” será um talismã, para sempre uma fonte de energia, que permitirá a ela superar a desesperança, a desilusão e a desventura. Em “Um belo diploma”, Scholastique Mukasonga volta à sua veia autobiográfica, com seu estilo fluido, pleno de humor e de fantasia, que resulta em apaixonantes relatos de suas memórias – dolorosas sim, mas também belas e inspiradoras.

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