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Livro recomendado: O oráculo da noite, de Sidarta Ribeiro

Gosta de sonhos? O neurocientista Sidarta Ribeiro escreveu este livro sensacional sobre eles, que percorre desde o início da história humana até as últimas pesquisas científicas de ponta.

Mitos, práticas religiosas e de cura, ideias filosóficas, sonhos premonitórios, sonhos provocados por ervas de poder, efeitos neurológicos de sonhos no cérebro, seu papel na história humana, no avanço civilizatório e na vida cotidiana, e muito mais.  

É um livro denso, para ler devagar, para ter como referência e para valorizar pesquisadores brasileiros que não têm o que merecem nem em reconhecimento nem em incentivos. O oráculo da noite é tão abrangente que fica não quis fazer uma resenha. Em vez disso, trago aqui mini trechinhos para você degustar:

O caráter divinatório dos sonhos está presente nos principais textos remanescentes da Idade do bronze (entre 5 mil e 3 mil anos atrás) como no Livro dos mortos egípcio e a epopeia de Gilgamesh suméria”. (…) Ao final da Antiguidade, o grego Artemidoro escreveu um tratado sobre sonhos no qual explica que alguns sonhos são diretos, literais e outros alegóricos, simbólicos. Distinção que muito mais tarde a psicologia vai fazer… Uma das coisas que ele conta é que um doente do estômago sonhou que entrou no templo do deus Asclépio (que curava através de sonhos), e que o deus, tendo estendido sua mão própria direita, ofereceu os dedos para ele comer. E ele foi curado comendo 5 tâmaras: pois também os bons frutos da tamareira são chamados dedos (p.23,24).

A relação entre criatividade e sonhos é muito forte. No livro, vários relatos de artistas e cientistas descrevem seus sonhos criativos: músicos que acordam com canções na cabeça (Yesterday, de Paul McCartney é uma delas), cientistas com solução de questões que pesquisavam (por exemplo, a estrutura da molécula de carbono foi vista num sonho pelo seu descobridor, o cientista Kekulé), pintores que pintaram imagens oníricas (Durer, Chagal, Dali), autores que escreveram obras inspiradas em sonhos (Miguel de Cervantes, Cícero, a autora de Frankenstein Mary Shelley, etc). Mas qual há base cientifica para isso? Sim, Sidarta relata algumas pesquisas de neurocientistas que desde 2004 estão mostrando como a resolução criativa de um problema é favorecida pelo sono REM transcorrido entre a apresentação de um problema e sua solução (p.224-241) . Então, cá entre nós, gente (essa sou eu falando): se quiser resolver um problema difícil, vá dormir!

Rodas de sonhos são reuniões matutinas nas quais as pessoas se reúnem para contar os sonhos. Elas existem em várias culturas, como entre os sufis (místicos do islã) e os ameríndios da América do norte e daqui. Kaká Werá tem um depoimento no livro sobre isso onde diz que na roda “eles começam a contar os sonhos. E aqueles sonhos vão dando uma direção para o cotidiano da aldeia. Os povos lidam com o sonho como um momento de liberdade de espirito, quando o espírito vê tudo por todos os ângulos.” (p.362)

Sonhos lúcidos: sonhar que se está sonhando indica vitalidade da alma segundo os mapuches. Foram reconhecidos por Aristóteles, Galeno, Santo agostinho. São sonhos de profundo impacto emocional, com fortalecimento de sensação de autonomia e grande empoderamento do sonhador. (…) Um estudo cientifico para a compreensão dos sonhos lúcidos mostra que essa é uma atividade voluntaria que pode ser sugestionada verbalmente, treinada e estimulada por sinais luminosos. Entre outros, os budistas tibetanos desenvolveram técnicas especificas para desenvolver essa habilidade. (p368/9)

2 comentários

  1. Carmen Lopes disse:

    Amei a postagem.
    Fascinante.

    Acredito em sonhos e as vezes tenho medo deles rsrs.

    1. biapicchia disse:

      Carmen,lendo o livro além de acreditar vc vai amar os sonhos! beijo

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