O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Nossa avó iorubá: Nanã Burucu – parte 2


Foi Nanã quem proporcionou a matéria-prima com que as mulheres e os homens foram feitos. Quando quis criar o Mundo e os Humanos, Olorum, o Senhor do Céu, encarregou Oxalá, o grande orixá, de fazer isso.
Após criar o planeta, Oxalá tentou modelar o ser humano: primeiro com o vento, mas não deu certo, porque ele logo se desfez. Tentou fazer de madeira, mas a criatura ficou muito dura; de pedra foi ainda pior! Fez de fogo, e ele se consumiu; tentou usar azeite, água, até vinho-de-palma, mas nada dava certo.

Foi então que Nanã veio ao seu socorro: apontou com seu ibiri para o fundo da lagoa e de lá retirou uma porção de lama. Entregou essa lama para Oxalá que, com ela, conseguiu finalmente modelar a mulher e o homem. Depois Olorum jogou neles seu sopro sagrado e eles ganharam vida e, com a ajuda de todos os orixás, povoaram o mundo.

No entanto, Nanã não deu a matéria para o corpo dos humanos, só a emprestou por tempo determinado; sempre chega um dia em que a quer de volta. Então todos, mulheres e homens, um dia morrem, pois seus corpos têm de retornar à terra, à natureza de Nanã Burucu.

Dessa forma, Nanã é a mãe ancestral de todos e a que traz a vida e a morte, dois opostos indissolúveis.

Trecho do livro “O legado das deusas”

3 comentários

  1. felix marinho disse:

    O fato de Nanã simbolizar a terra, e doar uma parte de si mesma, para que Oxalá pudesse engendrar o homem a faz a mãe de toda a humanidade. Como dela surgimos, a ela retornaremos, em um perfeito equilíbrio que assegura a continuação da própria vida.

    1. Félix Marinho disse:

      Fora da África, em nenhuma outra localidade da grande diáspora negro africana, o culto a Nanã é tão expressivo e foi tão bem preservado como no Brasil. O que por si só é uma ocorrência excepcionalissima, uma vez que trata-se de uma divindade arcaica muito pouco conhecida e envolta em profundo mistério. Tal qual em África, Nanã no Brasil é considerada uma grande senhora, estando juntamente com Iemanjá, vinculada as águas e a Oxalá. Durante as grandes cerimônias públicas, Nanã manifestada em sua sacerdotisa, dança graciosamente pelo barracão, alternando gestuais ponderados e vigorosos. Em determinado momento a roda dos feitos fecha -se, para Nanã realizar o dakaia, ato em que simula banha-se nas primeiras águas mundo, após ter criado a terra.

  2. Félix Marinho disse:

    Nanã participará das seguintes cerimônias públicas: Águas de Oxalá (na condição de esposa mítica de Oxalá), Olubajé (como mãe mítica de Obaluaiê e Oxumarê) e poderá participar na Festa das Iyabás (como grande representante do poder feminino). Ainda veremos Nanã participando e se despedindo no Olorogun, em algumas celebrações fúnebres e recebendo (juntamente com Iemanjá e Oxum) balaio de presentes nas águas.

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