O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O arquétipo de Sofia – parte 1


Existe um outro relato mítico gnóstico que mostra Sofia como a mais jovem dos grandes seres nascidos do Criador Supremo* para habitarem Plenitude. Como ficava longe de sua luz primordial, viu uma luz a distância e pensou que era a dele, mas era apenas a luz refletida no Abismo. Auto iludida, ela viajou procurando se aproximar dela, mas o que conseguiu foi se distanciar cada vez mais da Plenitude, mergulhando nas profundezas do Abismo, até que foi interceptada pelo poder conhecido como Limite.
Nesse ponto aconteceu uma estranha divisão em Sofia. Seu núcleo essencial, seu Ser Superior tornou-se iluminado e voltou a seu lugar de origem, enquanto seu ser inferior mergulhou ainda mais no abismo do caos e da confusão, caindo no mundo da matéria. Sofrendo muito com essa forma de exílio de uma parte sua, acabou sendo socorrida pelos outros seres divinos que habitam a Plenitude e que ficaram profundamente condoídos com sua dor. Então, ajudada especialmente por Cristo, lenta e laboriosamente essa metade de Sofia decaída subiu até a Plenitude, passando por todos os 12 portais que ela havia descido, em círculos sempre ascendentes rumo a Luz. Lá chegando, reuniu-se com sua porção iluminada e assim integrada reassumiu seu papel de Sabedoria no reino Sagrado da Plenitude.

Sofia foi absorvida pelo cristianismo na terceira figura da trindade masculina, o Espírito Santo. Na visão cristã canônica o Espírito Santo é a Sabedoria Divina; é representado como uma pomba branca, um dos símbolos da deusa. E as várias correntes gnósticas foram condenadas pelo cristianismo ortodoxo ocidental como heréticas, que deveriam e foram violentamente perseguidas e combatidas.

Mas Sofia não desapareceu! Ela se aproxima simbolicamente de Shekinah, a presença espiritual feminina na Cabala, no judaísmo esotérico. Também reaparece na alquimia medieval, onde o processo de transformação alquímica é visto como a liberação gradual de Sofia do seu aprisionamento na materialidade caótica e limitante. Na cristandade oriental sempre esteve presente, mesmo que de forma discreta. A famosa Catedral de Hagia Sophia (Sagrada Sabedoria) construída pelo Império Bizantino na antiga Constantinopla, hoje Istambul, foi erguida em sua homenagem. O catolicismo para não a negar completamente, rebaixou Sofia, a Sabedoria Divina, a uma mulher humana, Santa Sofia.

E hoje, especialmente a partir da descoberta dos evangelhos gnósticos, Sofia está sendo trazida de volta ao nosso saber e nossa consciência. É um arquétipo feminino forte que vem emergindo com força em nosso mundo atual.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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