O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

O arquétipo de Sofia – parte 2


Sofia representa a sabedoria que existe em cada ser humano e que ao mesmo tempo é divina, a sabedoria sagrada que está imersa na matéria através do nosso corpo e psique, possível de ser acessada por nós. Não é a sabedoria divina do Logos, das escrituras sagradas, dos teólogos, nem das doutrinas religiosas. É a sabedoria que vem de dentro de cada um, através de inspirações e insights que podemos obter quando procuramos nos aproximar, das mais diversas maneiras, do Mistério da vida ou quando vivemos espontaneamente momentos de epifania e entendemos “tudo”. É uma experiência pessoal do Sagrado, muito mais próxima do olhar feminino. Como diz Marie-Louise von Franz: “…é uma experiência de Deus, mas em Sua forma feminina”.

O credo na existência desse acesso interno a um mundo divino é uma visão que acredita numa divindade imanente**. E no mito da queda e ascensão de Sofia podemos ver, metaforicamente refletida, a crença de que nós somos em parte seres humanos vivendo a vida encarnados e em parte seres espirituais que ansiamos por nos juntar a nossa parte divina. Dentro dessa visão temos um destino a cumprir, estamos aqui na Terra por algum motivo e Sofia e sua sabedoria podem nos ajudar a encontrá-los. É uma visão religiosa da vida, independente de qual religião estamos falando.

Mas é possível também aprender com a simbologia de Sofia não sendo religioso e não acreditando na existência de qualquer divindade. Basta achar que a vida deve ter algum sentido maior e estar em busca de algo que traga isso. Sofia simboliza também aquela verdade interna que emerge dentro da gente, muitas vezes sem sequer estarmos procurando, e que nos diz de forma enfática para fazer ou não fazer isso ou aquilo, para irmos nesse caminho ou mudarmos totalmente de rumo, para largarmos mão ou agarrarmos com todas nossas forças…Sofia é aquele senso de que isso é o que TEMOS mesmo que fazer, mesmo que não haja qualquer motivo racional para isso. Marie-Louise von Franz chama isso de “instinto de verdade”. Podemos também dizer que é a Voz de Sofia dentro de nós!

É como se tivéssemos uma bússola interna que nos direciona a seguir o caminho que temos que seguir, mesmo que a gente nem saiba direito que caminho é esse. Essa “bússola interna” pode ser chamada de Alma, Eu Superior, de Self na linguagem junguiana ou simplesmente daquilo que pede nosso eu para construirmos uma vida com significado para nós.
Dentro de uma visão junguiana, aquilo que fazemos obedecendo a nossa gnose ou a Sofia, torna-se o caminho da nossa individuação. Jean Shinoda Bolen disse: “O arquétipo de Sofia não se interessa tanto pela resposta correta e sim com o saber e o seguir seu caminho particular”.

Podemos dizer até que seguir essa “voz interna”, seguir Sofia, é uma atitude verdadeiramente religiosa sem necessidade de qualquer religião: é a atitude do religere – a observação atenta e consideração cuidadosa aos sinais da vida.

Trechos do livro O LEGADO DAS DEUSAS 2

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